Casa como símbolo de felicidade e proteção

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A casa, assim como a cidade e o templo, pode trazer a simbologia do centro do mundo, da imagem do universo.

A casa tradicional chinesa (Ming-t'ang) é quadrada; ela se abre para o Sol nascente, o dono da casa se volta para o sul, como o imperador em seu palácio: a implantação central da construção se faz segundo as regras da geomancia. O teto é furado com um buraco para a fumaça; o solo, com um buraco para drenar a água da chuva; a casa tem, assim, o seu centro atravessado por um eixo que reúne os três mundos.

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A casa árabe também é quadrada, fechada em torno de um claustro quadrado que encerra em seu centro um jardim ou fonte: é um universo fechado em quatro dimensões, cujo jardim central é uma evocação do Éden, aberto exclusivamente à influência celeste.

A iurte mongol é redonda, em relação com o nomadismo, pois o quadrado orientado implica a fixação espacial; o mastro central, ou apenas a coluna de fumaça, coincide com o Eixo do mundo. Há casas de um tipo particular — próximas, a bem dizer, do templo — que exprimem ainda com maior precisão esse simbolismo cósmico.

Assim são as casas comunitárias que em diversas regiões (especialmente na Ásia oriental e na Indonésia) ocupam o centro da cidade, na interseção dos eixos cardeais: é o caso do alojamento da dança do Sol entre os sioux, casa redonda como a dos iurtes, provida de uma pilastra central que evoca não somente o ciclo solar, mas também a manifestação espacial e, através de suas vinte e oito pilastras ligadas ao eixo, as mansões lunares; é o caso dos alojamentos das sociedades secretas no Ocidente, onde o caráter cósmico do alojamento é nitidamente afirmado e onde o fio de prumo faz as vezes de eixo.

Na China, onde o alojamento é quadrado, com quatro portas cardeais, cada porta corresponde ao elemento e à cor de sua orientação, por exemplo no centro, correspondendo ao elemento Terra, é ocupado pela Cidade dos Salgueiros ou Casa da Grande Paz, situada na direção da Ursa Maior e figurando a morada da imortalidade; é o caso, sobretudo, do Ming-t'angchinês, que Granet chama de Casa do calendário, mas que é, acima de tudo, Sala da luz.

O Ming-fizng originalmente talvez tenha sido circular, e cercado por um fosso em forma de anel de jade, o Py-yong: receptáculo, portanto, da influência celeste no centro do mundo chinês: ele é, em seguida, quadrado como a terra (seja de cinco salas em cruz, seja de nove salas dispostas como as nove províncias), coberto com um telhado de palha redondo como o céu, apoiado por oito pilastras que correspondem aos oito ventos e aos oito trigramas.

O Ming-tang comporta quatro lados voltados para as quatro estações, cada um cortado por três portas (sendo o total de doze portas correspondentes aos doze meses — aos doze signos do Zodíaco —, como na Jerusalém celeste).

A circulação do imperador dentro do Ming-t'ang determina as divisões do tempo e assegura a ordem do império, conformando-a à ordem celeste.

Se o taoismo constrói diversos palácios — que correspondem a centros sutis — no interior do corpo humano, a identificação do próprio corpo com a casa é corrente no Budismo.

É como diz o patriarca Huei-nêng, um albergue, entendendo-se por isso que não pode constituir mais do que um refúgio temporário.

Na Roda da Existência tibetana, o corpo figura como uma casa de seis janelas, correspondentes aos seis sentidos. Os textos canônicos exprimem a saída da condição individual, do cosmo, por fórmulas tais como o arrombamento do telhado do palácio, ou do telhado da casa (domo).

A abertura do alto do crânio por onde se efetua essa saída (brahmarandhra) é, além disso, chamada pelos tibetanos de buraco da fumaça.

No Egito, chamavam-se casas da vida a uma espécie de seminários religiosos, ligados aos santuários, onde os escribas copiavam os textos rituais e as figuras mitológicas, onde se formavam também médicos, cirurgiões, operadores, enquanto o pessoal do templo se entregava a suas ocupações. Entre os dogons, na África negra, Mareei Griaule descreveu a "grande casa familiar (como representando) a totalidade do Grande Corpo Vivo do Universo".

Já na concepção irlandesa de habitação a casa simboliza a atitude e a posição dos homens em relação às forças soberanas do Outro-Mundo. O palácio da rainha e do rei de Connaught, Ailill e Medb, é circular (o círculo é um símbolo celeste) e compreende sete compartimentos, cada um com sete leitos ou sete quartos, dispostos simetricamente em torno de um fogo central.

O teto em forma de domo reforça ainda mais as possibilidades de comunicação com o céu. A casa do rei é então ao mesmo tempo uma imagem do cosmo humano e um reflexo do céu sobre a Terra.
A casa significa o ser interior, segundo Bachelard; seus andares, seu porão e sótão simbolizam diversos estados da alma. O porão corresponde ao inconsciente, o sótão, à elevação espiritual.

A casa é também um símbolo feminino, com o sentido de refúgio, de mãe, de proteção, de seio maternal.

A psicanálise reconhece, em particular, nos sonhos de casa, diferenças de significação segundo as peças representadas, e correspondendo a diversos níveis da psique.

O exterior da casa é a máscara ou a aparência do homem; o telhado é a cabeça, e o espírito, o controle da consciência: os andares inferiores marcam o nível do inconsciente e dos instintos; a cozinha simbolizaria o local das transmutações alquímicas, ou das transformações psíquicas, isto é, um momento da evolução interior.

Do mesmo modo, os movimentos dentro da casa podem estar situados no mesmo plano, descer, ou subir, e exprimir, seja uma fase estacionária ou estagnada do desenvolvimento psíquico, seja uma fase evolutiva, que pode ser progressiva ou regressiva, espiritualizadora ou materializadora.

O significado da casa para crianças

Pesquisas realizadas em várias universidades espalhadas pelo mundo chegaram a uma constatação muito curiosa sobre o desenho da casa como um símbolo de felicidade para as crianças.

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Não importa em qual país a criança tenha nascido e crescido, na maioria absoluta dos desenhos de crianças que exibem casas, os desenhos sempre trazem um sorriso. Sempre são desenhadas duas janelas no lugar dos 2 olhos de um rosto, e no lugar da boca temos uma porta desenhada. O telhado é simbolizado pelo cabelo.

Curiosamente esse padrão se repete na maioria dos países quando as crianças desenham o sol, e de novo ele vem com um sorriso.

 

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 25/03/2022 por Everton Ferretti