Simbologia dos ícones sagrados

Nesse artigo vamos tratar dos ícones sagrados, que existem há milênios. Não vamos confundir os ícones religiosos com os ícones modernos, pequenas imagens que simbolizam um aplicativo numa tela de celular.

Entende-se, aqui, por ícone a imagem divina ou sagrada de maneira geral e não só a forma particular que assumiu na Igreja do Oriente.

 

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O ícone não é da mesma natureza do retrato. Nele, se existe semelhança, é apenas de caráter ideal, na medida em que a imagem participa da Realidade divina que se destina a exprimir.

Portanto, o ícone é, em primeiro lugar, representação da Realidade transcendente — nos limites inerentes à incapacidade fundamental de traduzir de maneira adequada o divino — e suporte para a meditação.

Tende a fixar o espírito na imagem, para que esta o leve a concentrar-se na Realidade que simboliza. Se a imagem da Virgem é atribuída a São Lucas, o Mandilion é de origem miraculosa; a imagem do Buda foi projetada por ele mesmo sobre a tela ou resultou do levantamento do contorno da sua sombra no solo.

Todos os ícones posteriores são a reprodução de protótipos sobrenaturais, efetuada em condições de preparação rigorosa segundo cânones precisos.

 

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Sem dúvida, o ícone do Cristo é independente e separado do seu Modelo divino. O ícone do Buda não passa de um reflexo ilusório de um artificio (upaya); mas o ícone do Cristo participa, ao mesmo tempo, da natureza do Modelo e prolonga sua Encarnação; e o ícone do Buda permite apreender a Realidade supraformal que ele evoca de modo ilusório.

É a consequência do Voto original do Boddhisattva, que decidiu permanecer na Terra até a libertação do último dos seres. Esse duplo aspecto permite compreender que se a imagem do Bem-Aventurado é um meio de graça e até de salvação, ela pode servir também para alimentar o fogo quando alguém está com frio.

 

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Um apólogo zen considera que não é sacrilégio utilizar assim as estátuas dos santos. O ícone não é, jamais, um fim em si, mas sempre um meio. Uma janela, digamos, aberta entre o céu e a Terra, mas que abre nos dois sentidos.

O fundo dourado dos ícones bizantinos — como a douradura do Buda é propriamente a luz celeste, a luz da Transfiguração. Fixados, como o são na Grécia ou em São Marcos de Veneza, num iconostásio, os ícones se situam no limite do mundo sensorial e do mundo espiritual.

 

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Madonna Nicopeia 

Acima: Obra de arte bizantina do século IX, fica exposta na Basílica de São Marcos, em Veneza (Itália). Trata-se de um exemplo clássico de ícone bizantino.

 

São o reflexo do segundo no primeiro e o meio de acesso do primeiro ao segundo. O ícone como fim em si é a justificação das crises iconoclastas. E se o iconoclasmo aparece também no ensino do Buda, refere-se, aí, ao que parece, às imagens humanas, que não devem ser objeto de idolatria, e não aos veículos de influência espiritual. A imagem não humana resulta da graça do Buda e é o suporte privilegiado dessa mesma graça.

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 16/03/2022 por Everton Ferretti