Simbologia da Terra em diferentes civilizações

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Simbolicamente, a Terra opõe-se ao Céu como o princípio passivo ao princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang; Camas (a tendência descendente) a Sattva (a tendência ascendente); a densidade, afixação e a condensação (Abu Ya'qub Sejestani) à natureza sutil, volátil, à dissolução.

Segundo o I-Ching, a terra é o hexagrama k'uen, a perfeição passiva, recebendo a ação do princípio ativo, K'ien. Ela sustenta, enquanto o Céu cobre. Todos os seres recebem dela o seu nascimento, pois é mulher e mãe, mas a terra é completamente submissa ao princípio ativo do Céu.

O animal fêmea tem a natureza da Terra. Positivamente, suas virtudes são doçura e submissão, firmeza calma e duradoura. Seria necessário acrescentar a humildade, etimologicamente ligada ao húmus, na direção do qual a terra se inclina e de que foi modelado o homem.

O caractere primitivo indica a produção dos seres pela terra. A terra é a substância universal, Prakriti, o caos primordial, a prima materia separada das águas, segundo o Gênesis, levada à superfície das águas pelo javali de Vishnu; coagulada pelos heróis míticos do xintoísmo; matéria de que o Criador (na China, Niu-Kua) molda o homem.

A terra é a virgem penetrada pela lâmina ou pelo arado, fecundada pela chuva ou pelo sangue, o sêmen do Céu. Universalmente, a terra é uma matriz que concebe as fontes, os minerais, os metais.

A Terra é quadrada (principalmente na China), determinada pelos seus quatro horizontes. O império chinês é também quadrado, dividido em quadrados e representado, no seu centro, pelo quadrado do rning-t'ang. O mundo chinês é feito de quadrados encaixados.

A terra simboliza a função maternal: Tellus Mater. Dá e rouba a vida. Prostrando-se sobre o solo,Jó exclama: "Nu saí do seio materno, nu para lá retornarei" (1, 21), identificando a terra-mãe com o colo materno.

Também na religião védica, a terra simboliza a mãe, fonte do ser e protetora contra qualquer força de destruição. Segundo os ritos védicos dos funerais, são recitados versos no momento em que a urna funerária que contém os restos da incineração é enterrada:

Vai sob esta Terra, tua mãe, às vastas moradas, aos bons favores! Doce como lã a quem soube dar, que ela te proteja do Nada! Forma arcos sobre ele e não o destruas; recebe-o, Terra, acolhe-o! Cobre-o com urna barra do teu vestido como uma mãe protege o seu filho. (Rig Veda, Grhyasutra, 4, 1)

Algumas tribos africanas têm o hábito de comer a terra: símbolo de identificação. O sacrificador prova a terra; dela, a mulher grávida come. O fogo nasce da terra comida. Diz-se, então, que "o Ventre se ilumina".

Na sua concepção da hierogamia fundamental Terra-Céu, os dogons representam a terra como uma mulher deitada sobre as costas, com a cabeça voltada para o norte, os pés para o sul, tendo como sexo um formigueiro e como clitóris um cupinzeiro.

Identificada com a mãe, a terra é um símbolo de fecundidade e regeneração. "Dá à luz todos os seres, alimenta-os, depois recebe novamente deles o germe fecundo".

Seguindo a teogonia de Hesíodo, a Terra (Gaia) pariu até o Céu (Urano), que deveria cobri-la em seguida para fazer nascerem todos os deuses. Estes imitaram essa primeira hierogamia, depois, os homens, os animais; revelando-se a Terra como a origem de toda a vida, foi-lhe conferido o nome de Grande Mãe.

Há enterros simbólicos, semelhantes à imersão batismal, seja para curar e fortificar, seja para satisfazer a ritos iniciáticos. A ideia é sempre a mesma: regenerar pelo contato com as forças da terra, morrer para uma forma de vida, para renascer em uma outra forma.

Das Águas, que também dão origem às coisas, distinguimos a terra, pelo fato de as Águas precederem a organização do Cosmo, e a terra produzir as formas vivas; as Águas representam o conjunto do que é indiferenciado, a terra, os germes das diferenças.

Os ciclos aquáticos envolvem períodos mais longos que os ciclos telúricos na evolução geral do Cosmo. A terra fértil e a mulher são frequentemente comparadas na literatura: sulcos semeados, o lavrar e a penetração sexual, parto e colheita, trabalho agrícola e ato gerador, colheita dos frutos e aleitamento, o ferro do arado e o falo do homem.

Segundo certas crenças, tanto na África quanto na Ásia, as mulheres estéreis podem tornar infértil a terra familiar e seus maridos têm o direito de repudiá-las por isso. Quando as mulheres grávidas atiram sementes nos sulcos enriquecem as colheitas, pois são fonte de fecundidade. "Vossas mulheres", diz o Corda, "são para vós como os campos". Foi em um sulco semeado que, na primavera, Jasâo uniu-se a Deméter (Odisseia).

Para os astecas, a deusa Terra apresenta dois aspectos opostos: é a Mãe que alimenta, permitindo-nos viver da sua vegetação; mas por outro lado precisa dos mortos para alimentar a si mesma, tornando-se, desta forma, destruidora.

Para os maias, o glifo da Terra é a deusa Lua, rainha dos ciclos da fecundidade. A velha deusa Maia, luniterrestre, tem uma função primordial: é a dominante do número um. Isto quer dizer que ela preside o nascimento, as origens de todas as coisas, o princípio da manifestação.

No Japão, a Terra é supostamente carregada por um peixe enorme; na Índia, por uma tartaruga; entre os ameríndios, por uma serpente; no Egito, por um escaravelho; no sudoeste da Ásia, por um elefante etc.

Os terremotos são explicados por movimentos súbitos desses animais geóforos, que correspondem a fases de evolução.

A denominação de Terra Santa se aplica, para os judeus e os cristãos, à Palestina; mas é evidente que ela admite homólogos em outras tradições ou recebe outros nomes, tais como: Terra dos Santos, dos Bem-Aventurados, Terra de Imortalidade etc.

Em todos os casos, trata-se de centros espirituais, correspondendo ao Centro do mundo particular a cada tradição, o próprio reflexo do Centro primordial ou do Paraíso terrestre.

A isso podemos relacionar a Terra prometida, objetivo de uma busca que também é de ordem espiritual, e ainda a tremi (Terra negra) dos egípcios, cujo caráter principal não deixa dúvida alguma.

A Terra prometida é um dos polos do espírito (Dante), como Canaã para os hebreus, Ítaca, para Ulisses, a Jerusalém celeste, para os cristãos.

A Terra pura corresponde, para Platão, ao que imaginamos como a Terra Santa. No caso particular do Amidismo, a Terra pura (em japonês, Jodo), também chamada por Shiram de Terra de retribuição (Hodo), é o Paraíso ocidental de Amida; é, ainda, definitivamente uma Terra dos Bem-Aventurados.

Mas a terra definitiva não é estranha à das origens. Esta não abandona seu caráter sagrado. Assim, quando um grupo quer regenerar-se espiritualmente, pratica uma espécie de retorno à terra natal. "Um espaço sagrado conserva a sua validade pela permanência da hierofania que uma vez o consagrou. Eis por que certa tribo boliviana, cada vez que sente a necessidade de renovar sua energia, retorna ao lugar que é considerado como tendo sido o berço dos seus ancestrais".

O mesmo se aplica às peregrinações ao Monte Sião, ao Gólgota etc. Com esse caráter sagrado, esse papel maternal, a terra intervém na sociedade como garantia dos juramentos. Se o juramento é o elo vital do grupo, a terra é mãe e sustento de toda sociedade.

O irlandês apresenta, como o latim, duas palavras para designar a terra: talamh corresponde a tellus e designa a terra enquanto elemento por oposição ao ar ou à água; tir corresponde à terra e designa a terra enquanto expressão geográfica.

O druida também tem poder sobre a terra-elemento: antes da batalha de Mag-Tured, um druida dos Tuatha é Danann, promete a Lug que jogará uma montanha sobre os fomoiré e que porá a seu serviço as doze primeiras montanhas da Irlanda.

Na mitologia, a terra é personificada por Tailtiu, não mulher, mas ama de leite de Lug, cuja festa se realiza a primeiro de agosto.

A terra faz ainda parte das garantias do juramento celta e podemos comparar o juramento do anjo Amnael a Ísis: "Juro pelo Céu, pela Terra, pela luz e as trevas; juro pelo fogo, a água, ar e a terra, juro pela amplidão do Céu, pela profundeza da terra e do Tártaro; juro por Hermes, por Anúbis, pelos uivos de Kerkoros, pela serpente que guarda o templo; juro pela barca e barqueiro do Aqueronte; juro pelas três Necessidades, pelos Chicotes e pela Espada".

Paul Diel esboçou toda uma psicogeografia dos símbolos, em que a superfície plana da Terra representa o homem como ser consciente; o mundo subterrâneo, com seus demônios e seus monstros ou divindades malevolentes, figura o subconsciente; os cumes mais elevados, mais próximos do Céu, são a imagem do supraconsciente. "Toda a Terra se torna, assim, símbolo do consciente e de sua situação de conflito, símbolo do desejo terrestre e de suas possibilidades de sublimação e de perversão." É a arena dos conflitos da consciência no ser humano.

 

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 17/03/2022 por Everton Ferretti