Simbologia do trigo

Uma antiga cerimônia grega dos mistérios de Elêusis coloca em perfeito relevo o simbolismo essencial do trigo. No decurso de um drama místico, comemorativo da união de Deméter (Céres) e Zeus (Júpiter), era apresentado um grão de trigo, como uma hóstia no ostensório, que se contemplava em silêncio. Era a cena da epopsia, ou da contemplação.

Através desse grão de trigo, os epoptas prestavam honras a Deméter, a deusa da fecundidade e iniciadora aos mistérios da vida. Essa ostensão muda evocava a perenidade das estaçôes, o retorno das colheitas, a alternância da morte do grão e de sua ressurreição em múltiplos grãos.

O culto da deusa era a garantia dessa permanência cíclica. O seio materno e o seio da terra são frequentemente comparados. "Parece certo que se deva buscar a significação religiosa da espiga de trigo nesse sentimento de harmonia entre a vida humana e a vida vegetal, ambas submetidas a mudanças semelhantes [...]. Uma vez replantados no solo, os grãos de trigo — o mais belo fruto da terra — são uma promessa de outras espigas".

E, a esse propósito, evocaremos o verso de Ésquilo: "A terra, que gera por si só todos os seres e os nutre, torna a acolher (em seu seio) o gérmen fecundo".

Citaremos, igualmente, a bela oração de Hesíodo:

"Rogai a Zeus infernal e à pura Deméter para tornar prenhe em sua maturidade o trigo sagrado de Deméter, no preciso instante em que, ao começar a lavoura e segurar a empunhadura do arado, tangereis os bois que puxam o arado sob o cravelho da canga [...]. Assim, no momento de sua plenitude, vossas espigas vergarão para a terra".

Por evocar a morte e o renascimento do grão, a emocionante cerimônia foi relacionada com a evocação do Deus morto e ressuscitado, característica dos cultos ao mistério de Dioniso. Mas essa interpretação seria apenas uma derivação da primeira. Ela relembraria, igualmente, que a espiga de trigo era também um emblema de Osíris, símbolo de sua morte e de sua ressurreição.

Quando São João anuncia a glorificação de Jesus através da morte, não recorre a nenhum outro símbolo, senão o grão de trigo.

É chegada a hora em que será glorificado o Filho do Homem.
Em verdade, em verdade, vos digo:
Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só;
mas se morrer produzirá muito fruto.
Quem ama sua vida a perde
e quem odeia sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna.
(João, 12, 23-25)

Entre os gregos e os romanos, os sacerdotes espargiam trigo ou farinha sobre a cabeça das vítimas, antes de imolá-las. Esse gesto não seria como se derramassem sobre elas o sêmen da imortalidade ou a promessa de ressurreição? O profundo simbolismo do grão de trigo talvez se enraíze também em um outro fato assinalado por Jean Servier.

A origem do trigo é completamente desconhecida, como a de muitas plantas de cultivo, em especial a cevada, o feijão e o milho. Pode-se multiplicar as espécies, enxertar algumas, melhorar a qualidade de outras — mas nunca se conseguiu criar trigo ou milho, ou qualquer dessas plantas alimentícias básicas.

Elas surgem, portanto, essencialmente e em diferentes civilizações, como um presente dos deuses, ligado ao dom da vida. Deméter doa a cevada e envia Triptólemo para difundir o trigo no mundo; Xochiquetzal traz o milho; o Ancestral-Ferreiro dos dogons rouba do céu todas as plantas cultivadas a fim de oferecê-las aos homens, assim como Prometeu deu-lhes o fogo do céu etc. O trigo simboliza o dom da vida, que não pode ser senão um dom dos deuses, o alimento essencial e primordial.

Jesus Cristo e o símbolo do trigo

Faltavam poucos dias para a sua morte e Jesus começava a falar de si mesmo, dando o significado de sua existência, sua morte será dolorosa, humilhante, ele será caluniado, esbofeteado, escarnecido, pregado numa cruz para congregar as ovelhas dispersas. A morte é o alto preço a ser pago por isso, Jesus deveria ser levantado da terra, no madeiro da cruz para que os discípulos pudessem entrar neste mistério, Jesus diz: "Se o grão de trigo, que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto" (Jo 12,24).

Aquele grão de trigo é Ele, o Cristo Rei dos Reis. Um reinado sem trono ou glória, com a morte de si mesmo, e no alto da cruz traçar um sinal de amor extremo; ali o grão de trigo morreu para dar frutos, Jesus nos deu a possibilidade de nos tornarmos filhos de Deus, gerando um povo novo, uma nova criação a partir do calvário.

Utilizar o grão de trigo como simbologia, foi uma forma de explicar sobre o sentido da vida, da morte e também da ressurreição.

A morte do grão do trigo significava morrer para o mundo, para si mesmo, em nome de um projeto de salvação. O grão de trigo, lançado em terra para se transformar em planta se despe de sua casca, se desnuda e ressurge com nova aparência por dentro e por fora.

De fato, esse grão conservará alguns de seus elementos, porém terá renascido para uma nova vida em que dará origem a muitos outros grãos. É uma simbologia fantástica, tão simples e complexa ao mesmo tempo, porque nos diz sobre eternidade com Deus, e isso é o que de há maior no mundo inteiro, e coube em um pequenino grão de trigo.

Jesus poderia ter usado o exemplo de qualquer outro grão, mas ao falar sobre trigo, Ele fala de si mesmo: trigo é pão, Ele era o Pão da vida, que haveria de morrer e ressuscitar ao terceiro dia. Deixaria a aparência física de homem, nascido de mulher, para receber um corpo glorioso e ser elevado ao céu. Grãos de trigo são pequenos, de forma oval, com uma fenda no comprimento e recoberta por uma casca dura, no interior da casca encontram-se o amido e o glúten, substâncias que, além de preciosas para a alimentação, dão à planta a força necessária para que ela cresça. A transformação do grão em planta é visível, mas acontece primeiramente no interior, porque lá no íntimo do grão é que está a força necessária para seu desenvolvimento.

A morte de Jesus foi gerada primeira no coração do Pai, depois em seu coração que aceitou o projeto do Pai e depois no seu corpo. A decisão de morrer para si, de abraçar o projeto de Deus é nossa, mas a Obra de transformação é de Deus.

O grão tem a vida em si mesmo, mas não brotaria em forma de planta, se não houvesse quem o regasse, cuidasse para não ser arrancado da terra pisado e lançado fora. Assim é Cristo para conosco, aquele que se entrega a Ele é aperfeiçoado para ressuscitar no último dia. “Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele”. (Romanos 6,5-9)

No dia de Pentecostes, Pedro prega e três mil pessoas de todos os povos e nações são transformadas num só dia, uma semana depois mais de cinco mil pessoas, e até hoje, podemos constatar que Jesus Cristo, que morreu naquele dia e ressurgiu 3 dias depois, nunca mais parou de dar frutos, como espigas fecundas.

 

Os grãos como símbolos

O grão, que morre e se multiplica, é o símbolo das mudanças da vegetação. Desde a antiguidade clássica na Grécia, o grão de trigo já era mencionado nos hinos homéricos. Seu simbolismo se eleva, porém, acima dos ritmos da vegetação para significar a alternância da vida e da morte, da vida no mundo subterrâneo e da vida à luz do dia, do não manifestado à manifestação.

Os ritos de iniciação, sobretudo nos mistérios de Elêusis, têm por objetivo livrar a alma dessa alternância e fixá-la na luz. A forma particular do grão de lentilha atrai o olhar e faz ressaltar a brancura luminosa que o cerca. A lentilha se chama em francês grain de beauté e poderia ser traduzida como "grão da beleza".

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.

 

 

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Página atualizada por Everton Ferretti em 17/03/2022 na Agência EVEF