Simbologia da cor vermelho

simbologia histórica da cor vermelho

Universalmente considerado a cor símbolo fundamental do princípio de vida, com sua força, seu poder e seu brilho, o vermelho, Cor de fogo e de Sangue, possui, entretanto, a mesma ambivalência simbólica destes últimos, sem dúvida, em termos visuais, conforme seja claro ou escuro.

O vermelho claro, brilhante, centrífugo, é diurno, macho, tônico, incitando à ação, lançando, como um sol, seu brilho sobre todas as coisas, com uma força imensa e irredutível.

O vermelho escuro, bem ao contrário, é noturno, fêmea, secreto e, em última análise, centrípeto; representa não a expressão, mas o mistério da vida. Um seduz, encoraja, provoca, é o vermelho das bandeiras, das insígnias, dos cartazes e embalagens publicitárias; o outro alerta, detém, incita à vigilância e, no limite, inquieta: é o vermelho dos sinais de trânsito, a lâmpada vermelha que proíbe a entrada num estúdio de cinema ou de rádio, num bloco de cirurgia etc.

É também a antiga lâmpada vermelha das casas de tolerância, o que poderia parecer contraditório, pois, ao invés de proibir, elas convidam; mas não o é, quando se considera que esse convite diz respeito à transgressão da mais profunda proibição da época em questão, a proibição lançada sobre as pulsões sexuais, a libido, os instintos passionais.

Este vermelho noturno e centrípeto é a cor do fogo central do homem e da terra, o do ventre e do atanor dos alquimistas, onde, pela obra em vermelho, se opera a digestão, o amadurecimento, a geração ou regeneração do homem ou da obra.

Os alquimistas ocidentais, chineses e islâmicos utilizam o sentido do vermelho de um modo idêntico, e o enxofre vermelho dos árabes, que designa o homem universal, sai diretamente desta obra em vermelho, gestação do atanor.

O mesmo se dá com o arroz vermelho no Alqueire dos chineses, que é também fogo — ou sangue — do atanor, ligado ao cinabre, no qual se transforma alquimicamente, para simbolizar a imortalidade. Subjacente ao verdor da terra, à negrura do Vaso, este vermelho, eminentemente sagrado e secreto, é o mistério vital escondido no fundo das trevas e dos oceanos primordiais.

Vermelho é a cor da alma, a da libido, a do coração. É a cor da Ciência, do Conhecimento esotérico, interdito aos não iniciados, que os sábios dissimulam sob seu manto.

logo vermelho california academy of sciences

Nas lâminas do Tarô, o Eremita, a Papisa, a Imperatriz usam uma toga vermelha sob uma a capa ou um manto azul: todos os três, em graus diversos, representam a ciência secreta. Este vermelho, como se vê, é matricial, uterino. Só é licitamente visível no curso da morte iniciatória, onde adquire um valor sacramental.

Os iniciados nos mistérios de Cibele eram baixados a uma fossa, onde recebiam sobre o corpo o sangue de um touro ou de um carneiro, colocado sobre uma grade em cima da fossa e ritualmente sacrificado em cima deles, enquanto
uma serpente ia beber esse sangue bem na chaga da vítima.

Nas ilhas Fiji, num ritual análogo, mostrava-se aos jovens "uma fila de homens aparentemente mortos, cobertos de sangue, com o corpo aberto e as entranhas aparecendo. Mas, a um grito do sacerdote, os pretensos mortos se erguiam sobre os pés e corriam ao rio, para se limparem do sangue e das entranhas de porco, com que os haviam coberto".

Os oceanos purpúreos dos gregos e o mar Vermelho estão ligados ao mesmo simbolismo: representam o ventre, onde morte e vida se transmutam uma na outra. Iniciático, este vermelho, sombrio e centrípeto, possui também uma significação fúnebre: a cor púrpura, segundo Artemidorus, tem relação com a morte".

Porque esta é, com efeito, a ambivalência deste vermelho do sangue profundo: escondido. ele é a condição da vida. Espalhado, significa morte.

Por isso a antiga proibição bíblica que atinge as mulheres menstruadas: o sangue que deitam fora é impuro. porque, ao passar da noite uterina ao dia, ele inverte sua polaridade e passa do direito ao esquerdo. Essas mulheres são intocáveis e em numerosas sociedades elas são obrigadas a realizar um retiro purificador antes de se reintegrar à sociedade da qual foram, temporariamente, excluídas.

Essa proibição por muito tempo estendeu-se a rode, homem que derramasse sangue de outro, mesmo que por uma justa causa; o carrasco de vestes vermelhas é, como o ferreiro, um intocável, porque ele lida com a própria essência do mistério vital, encarnado pelo vermelho centrípeto do sangue do metal em fusão.

 

caranguejo vermelho

 

Um mito das ilhas Trobriand (Melanésia) relatado por Malinowski, ilustra a universalidade e antiguidade dessas crenças: no início dos tempos um homem aprendeu o segredo da mágica de um caranguejo, que era vermelho "por causa da feitiçaria da qual estava carregado; o homem matou o caranguejo depois de ter extorquido dele o seu segredo; é por isso que os caranguejos hoje são pretos, porque foram destituídos de sua feitiçaria; entretanto, eles demoram para morrer porque foram outrora os senhores da vida e da morte".

O vermelho vivo, diurno, solar, centrífugo, incita à ação; ele é a imagem de ardor e de beleza, de força impulsiva e generosa, de juventude, de saúde, de riqueza, de Eros livre e triunfante — coisa que explica o fato de que em muitos costumes, como o da lâmpada vermelha aqui citado, as duas faces do símbolo estão presentes.
É a pintura vermelha, geralmente diluída em um óleo vegetal — o que aumenta seu poder vitalizador que as mulheres e meninas, na África subsaariana, usam no corpo e no rosto no final da proibição consecutiva às suas primeiras regras, nas vésperas de seu casamento ou depois do nascimento do primeiro filho.

É a pintura vermelha — também diluída em óleo — com a qual se enfeitam os moços e as moças entre os índios da América; ela tem o atributo de estimular as forças e despertar o desejo. Ela toma uma qualidade medicinal e torna-se panaceia indispensável.

É o sentido, também, das inúmeras tradições que, da Rússia até a China e o Japão, associam a cor vermelha a todas as festividades populares e, especialmente, às festas da primavera, de casamento e de nascimento: é comum se dizer de um menino ou menina que ele ou ela é vermelho, para dizer que é bonito: isso já se dizia entre os celtas da Irlanda.

Mas, encarnando o arrebatamento e o ardor da juventude, o vermelho também é por excelência, nas tradições irlandesas, a cor guerreira, e o vocabulário galês conhece dois adjetivos muito correntes para designá-lo: derg e ruadh. Os exemplos existem às centenas, senão aos milhares, e o Dagda, deus druida, é chamado Ruadh Rofhessa, vermelho da grande ciência.

Alguns textos, sobretudo o relato da Destruição do Albergue de Da Derga, também mencionam druidas vermelhos: isso é uma referência à sua capacidade guerreira e à dupla função que lhes é atribuída, de, ao mesmo tempo, sacerdotes e guerreiros. A Gália, por seu lado, honrou um Mars Rudiobus e um Rudianus (vermelho).

Assim, com essa simbólica guerreira, parece que o vermelho perpetuamente é o lugar da batalha — ou da dialética — entre céu e inferno, fogo ctônico e fogo uraniano. Orgiástico e liberador, é a cor de Dioniso.

 

pedra vermelha filosofal simbolo alquimia

 

Os Alquimistas, cuja interpretação ctônica do vermelho já vimos, também dizem da pedra filosofal que ela "carrega o signo do Sol". Chamam-na, ainda, de Absoluto, "ela é pura porque é composta dos raios concentrados do Sol".

Quando o simbolismo solar o arrebata e Marte tira Vênus de Vulcano, o guerreiro se torna conquistador, e o conquistador, Imperator. Um vermelho suntuoso, mais maduro e ligeiramente violeta, torna-se o emblema do poder, que logo é observado para uso exclusivo.

É o púrpura: essa variedade de vermelho era em Roma a cor dos generais, da nobreza, dos patrí-cios: ela tornou-se, consequentemente, a cor dos Imperadores. Os de Constantinopla vestiam-se inteiramente de vermelho. Também, no início, existiam leis que proibiam o uso de goles (esmalte rubro) nos brasões"; o código de Justiniano condenava à morte o comprador ou vendedor de um pano púrpura.

Isso quer dizer que a cor tinha se transformado no próprio símbolo do poder supremo: "o vermelho e o branco são as duas cores consagradas a Jeová como Deus do amor e da sabedoria", que parece confundir a sabedoria e a conquista, a justiça e a força.

O Tarô não se engana: o arcano 11 — A Força — que abre com as duas mãos a goela do leão, leva uma capa vermelha sobre o vestido azul, enquanto o arcano 8, A Justiça, esconde seu vestido vermelho sob um manto azul, à maneira da Imperatriz. Exteriorizado, o vermelho se torna perigoso como o instinto de poder, se não é controlado; leva ao egoísmo, ao ódio, à paixão cega, ao amor infernal.

Mefistófeles usa o manto vermelho dos príncipes do inferno, enquanto os cardeais levam o dos príncipes da Igreja, e Isaías (1, 18) faz o Eterno falar assim:

Vinde e discutamos, diz Jeová,
Quando os vossos pecados forem como o escarlate
Como neve eles embranquecerão,
Quando eles forem vermelhos como a púrpura,
Como lã tornar-se-ão.

Não há povo que não tenha expressado - cada um à sua maneira - essa ambivalência de onde provém todo o poder de fascinação da cor vermelha, que leva em si, intimamente ligados, os dois mais profundos impulsos humanos: ação e paixão, libertação e opressão; isso, as bandeiras vermelhas que tremulam ao vento do nosso tempo o provam!

Esse vermelho de goles (em francês gueules, nome do esmalte vermelho em heráldica) remete bem à ambivalência da Goela (fr. gueule), símbolo, essencialmente, de uma libido não diferenciada, que visita os sonhos das crianças, cujo fascínio pela cor vermelha é universalmente conhecido.

O goles ou vermelho da heráldica, segundo La Colombières, "denota entre as virtudes espirituais o ardente amor por Deus e pelo próximo; entre as virtudes mundanas, valentia e furor; entre os vícios, a crueldade, o assassinato e a carnificina; entre as compleições do homem, a colérica".

Por seu lado, a sabedoria dos bambaras diz que a cor vermelha "faz pensar no calor, no fogo, no sangue, no cadáver, na mosca, na irritação, na dificuldade, no Rei, naquilo que não se pode tocar, no inacessível".

No Extremo Oriente, o vermelho também evoca de uma maneira geral o calor, a intensidade, a ação, a paixão. É a cor de rafas, a tendência expansiva. Em todo o Extremo Oriente, é a cor do fogo, do Sul e, às vezes, da secura (note-se que o vermelho cor de fogo afasta o fogo: é assim que ele é utilizado nos ritos de construção).

É também a cor do sangue, da vida, da beleza e da riqueza; é a cor da união (simbolizada pelos fios vermelhos do destino, atados no céu).

Vermelho é a cor da vida, e também a da imortalidade, obtida através do cinabre (sulfureto vermelho de mercúrio), através do arroz vermelho da Cidade dos Salgueiros.

A alquimia chinesa aproxima aqui o simbolismo da obra em vermelho da alquimia ocidental, e o da do enxofre vermelho do hermetismo islâmico. Este último, que designa o Homem universal, é,
de fato, o produto do primeiro: a rubedo equivale com efeito, ao acesso aos grandes mistérios, à saída da condição individual.

 

bandeira japao vermelha simbolo monte fuji

 

No Japão, a cor vermelha (Aka) é usada quase que exclusivamente pelas mulheres. É um símbolo de sinceridade e de felicidade. De acordo com certas escolas xintoístas, o vermelho designa a harmonia e a expansão.

 

kimono vermelho cor simbolo japao

 

Os recrutas japoneses usam um cinto vermelho no dia de sua partida, como símbolo de fidelidade à pátria. Quando se quer desejar felicidade a alguém num aniversário, sucesso em um exame etc., colore-se o arroz de vermelho

 

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Artigo atualizado na Agência EVEF em 08/03/2022 por Everton Ferretti