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A cor cinzenta, composta, em partes iguais, de preto e de branco, designaria, na simbologia cristã a ressurreição dos mortos. Os artistas da Idade Média, acrescenta esse autor, dão ao Cristo um manto cinza (gris) quando ele preside o Juízo Final.

É a cor da cinza e da bruma. Os hebreus se cobriam de cinza para exprimir uma intensa dor.

Entre nós, o cinza é uma cor de luto aliviado. A grisalha de certos tempos brumosos dá uma impressão de tristeza, de melancolia, de enfado.

É o que se chama um tempo gris (gris=cinza), e os franceses dizem "faixe grise mine" para designar um ar rebarbativo.

Quanto aos sonhos que aparecem numa espécie de névoa acinzentada, situam-se nas camadas recuadas do Inconsciente, que precisam ser elucidadas e clarificadas "pela tomada de consciencia.

Donde a expressão francesa se griser para - estar um tanto embriagado", isto é, no estado de obscurecimento da meia-consciência.

Na genética das cores, parece que é o cinza que é percebido em primeiro lugar. E é o cinza que fica para o homem no centro da sua esfera de cores.

O recém-nascido vive no mesmo cinza (gris). No mesmo cinza que vemos quando fechamos os olhos physiologische Augengraü), mesmo na escuridão total.

A partir do dia em que a criança abre o olhos, todas as cores a envolvem mais e mais. A criança toma conhecimento do mundo da cor no curso dos seus três primeiros anos. Habituada ao cinza, identifica-se com o cinza.

Quando encontra no meio de outros seres e objetos, seu cinza se torna o centro do mundo da cor, seu ponto de referência. Ela compreende que tudo o que vê é cor.

 

cor cinza simbolo neutralidade

 

A predominância da cor no mundo das formas explica o mimetismo no mundo animal e a camuflagem no mundo dos homens.

O homem é cinzento em meio a um mundo cromático, representado pela analogia com a esfera celeste na esfera cromática.

O homem é o produto dos sexos opostos e se encontra situado no cinza central, entre cores complementares que formam uma esfera cromática harmônica, pois todos os pares de contracores se acham num equilíbrio perfeito.

A imagem imperfeita nessa esfera cromática pode ser concretizada por um ato material.

O homem procurou sempre concretizar as cores perfeitas que ele imagina e vê nos seus sonhos. Colore o meio que o cerca e a própria pele.

Tem necessidade da cor e da contracor, justamente por ser o meio cinza entre todas as cores complementares, entre o azul e o amarelo, o verde e o vermelho, o branco e o preto, as passagens de uma a outra e dos inumeráveis pares de contracores que têm, invariavelmente, no meio deles, o cinza (gris) mediano.

O homem consciente, no centro do mundo da cor, da esfera cromática perfeita, ideal, onde se encontram as cores reais e irreais em perfeito equilíbrio, o homem sente que se encontra em um campo de forças cromáticas extremamente poderosas, no meio desse espaço tridimensional de pares de contracores e, ao mesmo tempo, no meio de um outro espaço semelhante ao primeiro, mas sem equilíbrio, em que todas as cores, numa esfera cromática homogênea, são repartidas regularmente.

Esse conjunto de duas esferas é vivo, porque dotado de pulsação. É a pulsação do homem no centro cinza mediano.

A orientação no mundo da cor é possível graças aos quatro tons absolutos; as quatro tonalidades fundamentais, chamadas amarelo absoluto, verde absoluto, azul absoluto e vermelho absoluto.

Esses quatro tons permanecem constantes, seu aspecto amarelo, verde, azul e vermelho não depende da intensidade da luz.

Todas as outras cores modificam sua tonalidade segundo as condições de iluminação. Os quatro tons absolutos correspondem aos quatro pontos cardeais.

O homem atribui a cada ponto uma cor cuja escolha depende das suas condições de vida.

Cada tonalidade fundamental domina inumeráveis cores afins, que são mais quentes ou mais frias do que ela.

Tendo todas as cores uma tendência para o amarelo, o vermelho e seu intermediário dito laranja mostram uma tendência para o quente; tendo todas as cores uma tendência azul, o verde e seu intermediário verde turquesa mostram uma tendência para o frio.

O homem sente que o laranja é o polo que atrai todas as tendências quentes; o verde-turquesa é o polo do frio.

Muitos jovens amam o violeta, que é indiferente ao quente e ao frio. Os jovens se identificam com essa indiferença cromática.

O amarelo esverdeado, dito stil-de-grain (em francês contracor do violeta), atrai em especial as moças, que com ele, paralelamente, se identificam.

A atitude do homem no centro cinzas muda segundo as condições do seu caráter e da sua vida. Ele encontra, na zona circular que contém as doze tonalidades principais, os quatro tons absolutos e seus intermediários, um reflexo muito sensível do Zodíaco.

Cada um se volta, então, inconscientemente, para a região cromática à qual pertence, sua cor de predileção.

Grupos de homens, povos inteiros, podem voltar-se em conformidade com isso e encontrar uma atitude semelhante ao centro cinza (gris).

A cor se torna significativa para o homem, para os povos, e mesmo, talvez, para a humanidade, de maneira irracional e imprevisível.

 

A harmonia do cinza

O cinza atravessa o espaço entre o preto e o branco, criando um território neutro entre os extremos. O cinza representa a filosofia de que, embora haja extremos entre preto e branco, os tons de cinza que aparecem no meio podem fornecer soluções mais ponderadas e não combativas, proporcionando um meio-termo.

Assim como o bege, o cinza visualmente é uma cor não concorrente que não rouba a cena. No entanto, há um significado psicológico para a cor. A percepção humana do cinza assume várias formas. Na natureza, o cinza pode ser encontrado em nuvens ou sombras, obscurecendo levemente uma vista, mas ainda definindo forma e forma. Encontra-se em rocha e pedra, seixo e granito, aqueles elementos naturais que resistiram à devastação do tempo.

Na arquitetura, o cinza representa a longevidade de edifícios, templos e monumentos antigos – confiáveis, sólidos e eternos. É também uma cor penetrante em ambientes mais modernos, maciços e mecânicos, feitos de concreto de resistência industrial, bloco de concreto, ardósia e cascalho. Há seriedade e força ligadas ao cinza.

A sombra também é elusiva: são teias de aranha e um fogo apagado que resulta em cinzas cinzentas – um lembrete das paixões do passado transformadas em pó. Ao mesmo tempo, presta homenagem ao envelhecimento e à sabedoria, experiência e inteligência que a idade traz.

Os cinzas podem variar muito em temperatura. Inclinando-se para o lado azul, azul esverdeado ou lavanda, eles são infinitamente mais frios que os cinzas que têm um tom mais quente. Os cinzas mais claros podem aparecer como um branco tingido, assumindo algumas características do branco, enquanto os cinzas claros a médios são os mais neutros dos neutros. À medida que os cinzas começam a escurecer e se aproximam do preto, eles assumem um pouco do poder característico do preto, embora não tão formidável ou intenso.

 

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada por Everton Ferretti em 21/11/2024 na Agência EVEF