O simbolismo da montanha é múltiplo: prende-se à altura e ao centro. Na medida em que ela é alta, vertical, elevada, próxima do Céu, ela participa do simbolismo da transcendência; na medida em que é o centro das hierofanias atmosféricas e de numerosas teofanias, participa do simbolismo da manifestação.
Ela é assim o encontro do Céu e da terra, morada dos deuses e objetivo da ascensão humana. Vista do alto, ela surge como a ponta de uma vertical, é o centro do mundo; vista de baixo, do horizonte, surge como a linha de uma vertical, o eixo do mundo, mas também a escada, a inclinação a se escalar.
Todos os países, todos os povos, a maior parte das cidades têm, assim, a sua montanha sagrada. Esse simbolismo duplo da altura e do centro, próprio da montanha, encontra-se entre os autores espirituais.
As etapas da vida mística são descritas por São João da Cruz como uma ascensão: a subida do Carmelo, por Santa Teresa d'Ávila, como as Moradas da Alma ou o Castelo Interior.
A montanha exprime ainda as noções de estabilidade, de imutabilidade, às vezes, até mesmo de pureza. Ela é, segundo os sumerianos, a massa primordial não diferenciada, o Ovo do mundo e, segundo o Chuowen a produtora dos dez mil seres.
De uma maneira mais geral, ela é, ao mesmo tempo, o centro e o eixo do mundo. Ela é representada graficamente pelo triângulo reto. Ela é o lugar dos deuses e sua ascensão é figurada como uma elevação no sentido do Céu, como o meio de entrar em relação com a Divindade, como um retomo ao Princípio.
Acima: imagem do Monte Sinal, montanha sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus.
Os imperadores chineses faziam sacrifícios no pico das montanhas; Moisés recebeu as Tábuas da Lei no pico do Sinai; no pico do Ba-Phnom, local de uma antiga capital fuananesa, Shiva-Mahesvara descia incessantemente; os Imortais Taoistas elevavam-se ao Céu do pico de uma montanha e as mensagens destinadas ao Céu eram colocadas nesse pico.
As montanhas axiais mais conhecidas são o Meru, para a Índia, o Kuen-luen, para a China, às quais voltaremos; o monte Lie-ku-ye de Lie-tse; há muitos outros: o Fuji-Yama, cuja ascensão ritual necessita de uma purificação anterior; o Olimpo grego; o Alborj persa; a montanha dos países na Mesopotâmia; o Garizim samaritano; o Moriah maçônico; o Elbruz e o Thabor (de uma raiz que significa umbigo); a ka'ba de Meca; o Montsalvat do Craal e a Montanha de Qaf do Islã; a montanha branca celta; o Potala tibetano etc.
Trata-se, em todos os casos, da montanha central ou polar de uma tradição. O Montsalvat, o Lie-ku-ye situam-se no meio de ilhas que se tornaram inacessíveis; o Qaf não pode ser atingido nem por terra nem por mar. Isso implica um distanciamento do estado primordial, assim como a transferência do centro espiritual do pico visível da montanha à caverna' que ela esconde.
Dante situa o Paraíso terrestre no pico da montanha do Purgatório. Os Taoistas assinalam a dificuldade, e os perigos, de uma ascensão que não seja preparada através de métodos espirituais.
A montanha é às vezes povoada por entidades duvidosas, que defendem o pico de qualquer aproximação.
O poeta René Daumal evocou isso no Mont Analogue. A ascensão tem evidentemente natureza espiritual, a elevação é um progresso no sentido do conhecimento; a ascensão dessa montanha, escreve Richard de Saint-Victor, pertence ao conhecimento de si, e aquilo que se passa no topo da montanha conduz ao conhecimento de Deus.
O Sinai de seu ser é um símbolo comum a Sohrawardi d'Alep e ao esoterismo ismaelino.
A montanha de Qaf é,à maneira sufita, a haqiqat do homem, sua verdade profunda, sua natureza própria, diriam os budistas: do mesmo modo, o monte Kuen-luen dos chineses corresponde à cabeça e seu pico toca no ponto por onde se efetua a saída do cosmo.
É preciso insistirmos ainda no simbolismo cósmico da montanha central. Além do Meru, a índia conhece outras montanhas axiais: Kaila-sa, residência de Shiva; Mandara, que serviu de "batedeira" no célebre episódio do Mar de Leite.
Além do Kuenluen — que é também um pagode de nove andares, representando os nove estágios da ascensão celeste —, os chineses têm quatro pilastras do mundo, entre as quais o monte PU-tcheu, através do qual se penetra no mundo inferior, e quatro montanhas cardeais, entre as quais a T'ai-chan, ao leste, a mais conhecida. Se o Céu ameaça cair, escreve Mao Zedong, é sobre ela (a montanha) que ele se apoia...
O monte Kuenluen simboliza, entre os Senhores do Céu Taoistas, a morada da imortalidade, um pouco como o nosso Paraíso terrestre. Seu renome vem do fato de que Tchang Taoling, Senhor do Céu, aí foi procurar duas espadas que espantavam, ao que parece, os maus espíritos. É a partir dessa montanha que, bebendo a poção da imortalidade que um de seus antepassados havia descoberto, ele sobe ao Céu, montado em um dragão de cinco cores.
Na mitologia taoista, os Imortais iam viver so-bre essa montanha, que era chamada A Montanha do Meio do Mundo, em torno da qual giravam o Sol e a Lua. No pico dessa montanha eles haviam colocado os Jardins da Rainha do Ocidente, onde crescia o pessegueiro, cujos frutos conferiam a imortalidade.
Cibele parece ser etimologicamente uma deusa da montanha (Guénon); Parvati o é, com toda a certeza: ela é o símbolo do éter e também da força. Ela é ainda a xácti de Shiva, o qual é, ele próprio, Girisha (Senhor da montanha). Essa função se exprime especialmente no Kampu-chea (atual Camboja), onde os linga de Shiva se estabelecem, seja no pico de montanhas naturais (Lingaparvata, Mahendraparvala, Phnom Bakheng), seja no pico de templos-montanhas em degraus (Bakong, Koh-Ker, Baphuon).
Esse templo-montanha se situa no centro do reino, como o Meru no centro do mundo. Ele é o eixo do universo, como o foram os templos maias ou babilônicos. Nesse centro, o rei é substituído pelo Senhor do Universo Shiva-Devaraja; ele é chakravarti (soberano universal). O rei de Java e do Fu-nan são Reis da Montanha: lá, onde se en-contra o rei, está a montanha, assegura-se em Java.
A montanha central artificial é reencontrada nos tumulus e nos cairn, as pilhas de pedras dos celtas, nas colinas artificiais das capitais chinesas, talvez nos mirantes das fortalezas vietnamitas (Durand); em todo caso, nos montes de areia e nos pagodes de areia do ano novo kampucheano (cambojano) e do Laos.
Ela se encontra não menos claramente no stupa, do qual, o exemplo mais grandioso é o Borobudur javanês. Por ser a via que conduz ao Céu, a montanha é o refúgio dos Taoistas: saindo do mundo, eles entram na montanha (Demiéville), o que é um meio de se identificar com a via celeste (T'ien-tao).
Os Sien, Imortais Taoistas, são literalmente homens da montanha.
Na pintura chinesa clássica, a montanha se opõe à água como o yang ao yin, a imutabilidade à impermanência. A primeira é, na maioria das vezes, representada pelo rochedo, a segunda, pela cascata.
O simbolismo mitológico da montanha primordial ou cósmica encontra certo eco no Antigo Testamento.
As altas montanhas, lembrando fortalezas, são símbolos de segurança (Salmos, 30, 8). O monte Garizim é chamado, às vezes, Umbigo da terra (Juízes, 9, 37); as montanhas antigas (Gênesis, 49, 26), as montanhas de Deus (Salmos, 36, 7 e 48). Isaías (14, 12 s.) e Ezequiel (28, 11-79) supõem especulações sobre a montanha de Deus mais ou menos associadas à montanha do Paraíso.
Essa última concepção, ausente da narração do Gênesis, aparece nos escritos do judaísmo tardio (jubileus 4, 26; 1, Enoc, 24 s.; 87, 3). É um signo da grande difusão e da atração, segura do tema da montanha divina.
Encontra-se uma transposição escatológica desse tema dentro de duas passagens proféticas: (Isaías, 2, 2) e (Miqueias 4, 1): "E acontecerá, no fim dos dias, que a montanha da casa de Jeová estará firme no cume das montanhas [...J." Mas o símbolo pode encontrar, mediante uma adaptação, seu lugar no próprio coração da religião judaica. Herdeira da montanha divina primordial, a montanha simboliza frequentemente a presença e a proximidade de Deus: a revelação no Sinai, o sacrifício de Isaac sobre a montanha (Gênesis, 22, 2), mais tarde identificada à colina do Templo. Elias obtém o milagre da chuva depois de ter rezado no cume do Carmelo (1 Reis 18, 42); Deus se revela a ele sobre o monte Horeb (1 Reis 19, 9 s.). Os apocalipses judeus multiplicam as cenas de teofania ou as visões sobre as montanhas.
Deve-se lembrar o sermão sobre a montanha (Mateus 5, 1), que, sem dúvida, na nova aliança, responde à lei do Sinai na antiga. Observemos ainda a descrição da transfiguração de Jesus sobre uma alta montanha (Marcos 9, 2) e a da ascensão sobre o monte das Oliveiras (Lucas 24, 50; Atos 1, 12).
Além disso, as montanhas são imediatamente vistas como símbolos da grandeza e da pretensão dos homens, que, entretanto, não podem escapar da onipotência de Deus. Os cultos pagãos eram muitas vezes celebrados em locais altos (Juízes, 5, 5; Jeremias, 51, 25).
É por isso que o judaísmo e, depois dele, o cristianismo primitivo, esperam um nivelamento ou um desaparecimento das montanhas. Quando Deus levar seu povo do exílio, ele aplanará as escarpas (Isaías 40, 4).
O fim do mundo trará, antes de qualquer outra coisa, o desmoronamento das montanhas (1 Enoc, 1, 6; Ascensão de Isaías 4, 18; Apocalipse 16, 20).
Duplo aspecto do símbolo
Deus se comunica, sobre os cumes, mas aqueles cumes aos quais o homem só se eleva com o fim de adorar o homem e seus ídolos, e não absolutamente o Deus verdadeiro, não são senão signos de orgulho e presságios de desmoronamento.
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A cadeia simbólica sagrada
Deus-montanha--cidade-palácio-fortaleza-templo-centro do mundo surge com uma precisa plenitude nestes versos do Salmo 48: Jeová é grande e muito louvável na cidade do nosso Deus, a montanha sagrada, bela em altura, alegria da terra toda; o monte Sião, no longínquo Norte, cidade do Grande Rei: entre seus palácios, Deus se mostrou como fortaleza. Deus, nós meditamos teu amor no meio do teu Templo! Como teu nome, ó Deus, também teu louvor atinge os confins da terra!
Na tradição bíblica, como se viu, são numerosos os montes que se revestem de um valor sagrado e simbolizam em seguida uma hierofania: Sinai ou Horeb, Sião, lhabor, Garizim, Carmelo, Gólgota, os montes da Tentação, das Bem-aventuranças, da Transfiguração, do Calvário, da Ascensão; alguns Salmos integrantes do Gradual cantam a ascensão na direção dessas alturas.
Na origem do cristianismo, as montanhas simbolizaram os centros de iniciação formados pelos ascetas do deserto.
A Acrópole de Atenas também eleva seus templos ao cume de um monte sagrado e a eles se chega pelo pórtico das Procissões; os cantos das Panateneias lá acompanhavam a marcha das peregrinações rituais.
Quando os templos são edificados sobre planícies, um monte é figurado através de uma construção central, como o monte Meru no templo de Angkor-lhom.
Na África, na América, em todos os continentes e em todos os países, os montes são assinalados como a morada dos deuses; as brumas, as nuvens, os relâmpagos indicam as variações dos sentimentos divinos, ligados à conduta dos homens.
Resumindo as tradições bíblicas e as da arte cristã, que ilustram com diversos exemplos, de Champeaux e dom Sterckx extraem três significações simbólicas principais da montanha:
- a montanha faz a junção da terra e do Céu;
- a montanha santa se situa no centro do mundo;
- o templo é associado a essa montanha.
Na cosmologia muçulmana, Qaf é o nome dado à montanha que domina o mundo terrestre. Os antigos árabes pensavam, em geral, que a terra tinha a forma de um disco circular plano. A montanha de Qaf é separada do disco terrestre por uma região intransponível.
Segundo uma palavra do Profeta, seria uma extensão obscura que necessitaria de quatro meses para ser atravessada. De acordo com algumas descrições, a montanha Qaf é feita de esmeralda verde e é de seu reflexo que provém o verde (para nós, o azul) da abóbada celeste.
Uma outra versão pretende que apenas o rochedo sobre o qual se eleva o Qaf propriamente dito é constituído de uma espécie de esmeralda. Esse rochedo é também chamado de estaca, porque Deus o fez como um apoio para a terra.
Com efeito, segundo certas pessoas, a terra não é capaz de se manter por si mesma; ela tem necessidade de um ponto de apoio desse gênero. Se a montanha Qaf não existisse, a terra tremeria constantemente e nenhuma criatura poderia nela viver. Encontramos aqui mais uma vez o simbolismo do centro do mundo, do umbigo.
Nessa mesma perspectiva, o Qaf é muitas vezes considerado a "montanha-mãe de todas as montanhas do mundo. Estas são ligadas a ela por ramificações e veios subterrâneos; e quando Deus quer destruir uma região qualquer, basta que ele ordene a uma dessas ramificações que se ponha em movimento, coisa que provoca um tremor de terra".
Inacessível aos homens, considerado a extremidade do mundo, o Qaf constitui o limite entre o mundo visível e o invisível; ninguém sabe o que há por trás dele, somente Deus conhece as criaturas que aí vivem. Mas acima de tudo, o Qaf, ele próprio, passa como sendo o lugar do pássaro fabuloso Simorgh.
Existindo desde o início do mundo, esse pássaro miraculoso em seguida retirou-se para o Qaf, em uma solidão de claustro, e aí ele vive contente, como sábio conselheiro consultado pelos reis e pelos heróis... O Qaf, sua residência, deve a isso o nome que deram a ele na poesia, de montanha da sabedoria e também, simbolicamente, o de montanha do contentamento. O Qaf é muitas vezes citados nas Mil e uma Noites e nos contos árabes.
Um simbolismo mais esotérico é dado pelos autores místicos. Em O Rosal do Mistério, de Mahmoud Shabestari, está feita a pergunta: "O Simorgh e a montanha de Qaf, o que são?". A isso, Lahiji responde com um comentário segundo o qual "a montanha de Qaf como montanha cósmica é interiorizada em montanha psicocósmica. Simorgh significa a Ipseidade única absoluta. A montanha de Qaf, que é sua residência, é a realidade eterna do homem, a qual é a forma epifânica perfeita da haqiqat divina, posto que o Ser divino (Haqq) se epifaniza nela com todos os seus nomes e atributos".
Para os africanos, as montanhas muitas vezes tomam a forma e desempenham o papel de seres fabulosos, de lugares habitados pelos deuses, pelos espíritos, pelas forças ocultas, que não se deve perturbar. O barulho, o canto das montanhas são plenos de mistério, incompreensíveis para todo profano; é um mundo oculto cheio de segredos. É um dos lugares onde reside o sagrado: não se pode nele penetrar sem um guia (o iniciador), sob pena de perigos mortais: símbolo do desejo de iniciação, ao mesmo tempo que das suas dificuldades.
O simbolismo geral da montanha é pouco atestado no mundo céltico, exceto no topônimo gálico mítico de Gwynvryn (colina branca), que é no Mabinogi gálico de Branwen (filha de Llyr), o lugar central onde se enterra a cabeça de Bran. Ela terá como função, enquanto náo se a exumar, proteger a ilha da Bretanha contra qualquer invasão ou calamidade. Sendo o branco a cor sacerdotal, Gwynvryn só pode representar um centro primordial e o detalhe é um arcaísmo do conto gálico.
A montanha santa é um centro de isolamento e de meditação, em oposição à planície, onde habitam os seres humanos. Um pico que se eleva contra o Céu (v. certas pinturas chinesas ou as de Leonardo da Vinci) não é apenas um belo motivo pictórico; ele simboliza a residência das divindades solares, as qualidades superiores da alma, a função supraconsciente das forças vitais, a oposição dos princípios em luta que constituem o mundo, a terra e a água, bem como o destino do homem (ir de baixo para cima).
Um ponto culminante de uma região, o cimo de uma montanha — que se imagina banhando-se no Céu como os picos rochosos do famoso quadro do Louvre (Ana, Maria e Menino Jesus, de Leonardo da Vinci) — simboliza o termo da evolução humana e a função psíquica do supraconsciente, que é precisamente conduzir o homem ao cume de seu desenvolvimento.
No Brasil, o Dedo de Deus
O Dedo de Deus é um pico com 1 692 metros de altitude cujo contorno se assemelha a uma mão apontando o dedo indicador para o céu. É um dos vários monumentos geológicos da Serra dos Órgãos, que fica localizada na Serra do Mar, entre as cidades de Petrópolis, Guapimirim e Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil.
Os brasões e bandeiras do estado do Rio de Janeiro e dos municípios de Magé, Teresópolis e Guapimirim fazem referência a montanha. Quanto ao brasão e a bandeira do estado do RJ, a primeira seção, ocupando a metade superior, é azul, representando o céu e simbolizando a justiça, a verdade e a lealdade, com a silhueta da Serra dos Órgãos, destacando-se o pico Dedo de Deus. O símbolo foi criado pela Constituição Estadual de 1892 e oficializado no governo de José Tomás da Porciúncula.
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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.