Símbolo lunar, ligado à água e à mulher. A constância de suas significações é tão notável quanto a sua universalidade, como mostraram em diversos livros Mircea Eliade e inúmeros etnólogos.
Nascida das águas ou nascida da Lua, encontrada em uma concha, a pérola representa o princípio Yin: ela é o símbolo essencial da feminilidade criativa. "O simbolismo sexual da concha lhe comunica todas as forças que implica; enfim, a semelhança entre a pérola e o feto lhe confere propriedades genésicas e obstétricas; desse triplo simbolismo — Lua, Águas, Mulher — derivam todas as propriedades mágicas da pérola: medicinais, ginecológicas, funerárias".
A título de exemplo, ela serve, na Índia, de panaceia; é boa contra as hemorragias, a icterícia, a loucura, o envenenamento, as doenças dos olhos, a tísica etc.
Na Europa, a pérola era utilizada na medicina para tratar a melancolia, a epilepsia, a demência. No Oriente, suas propriedades afrodisíacas, fecundantes e de talismã predominam sobre as outras. Depositada em um túmulo, ela regenera o morto inserindo-o em um ritmo cósmico, por excelência cíclico, pressupõe, à imagem das fases da Lua, nascimento, vida, morte e renascimento.
A terapêutica hindu moderna utiliza o pó das pérolas por suas propriedades revigorantes e afrodisíacas. Entre os gregos, ela era o emblema do amor e do casamento.
Em certas províncias da Índia, enche-se de pérolas a boca do morto; o mesmo costume é encontrado em Bornéu. Quanto aos indígenas da América, Streeter escreve que "como no Egito nos tempos de Cleópatra, na Flórida, os túmulos dos Reis eram ornados de pérolas. Os soldados de Soto descobriram, dentro de um dos grandes templos, sepulturas cercadas de madeira onde jaziam, embalsamados, os mortos; perto delas havia pequenos lenços cheios de pérolas". Costumes análogos foram assinalados especialmente na Virgínia e no México.
O mesmo simbolismo reveste a utilização de pérolas artificiais. Nos sacrifícios e nas cerimônias funerárias do Laos, Madeleine Colani diz que: "Os mortos são providos de pérolas para a vida celeste. Elas são enfiadas nos orifícios naturais do cadáver. Até os nossos dias, os mortos são enterrados com cintos, bonés e túnicas ornados de pérolas."
Na China, a medicina utilizava unicamente a pérola virgem, não perfurada, que tinha a atribuição de curar todas as doenças dos olhos. A medicina árabe reconhece na pérola virtudes idênticas.
Com os cristãos e os gnósticos, o simbolismo da pérola se enriquece e se complica, sem, entretanto, jamais desviar-se de sua primeira orientação. São Efraim utiliza esse mito antigo para ilustrar tanto a Imaculada Conceição quanto o nascimento espiritual de Cristo no batismo do fogo.
Orígenes retoma a identificação de Cristo com a pérola. Ele é seguido por muitos autores. Nos Atos de Tomás, célebre escrito gnóstico, a busca da pérola simboliza o drama espiritual da queda do homem e de sua salvação. Ela acaba por significar o mistério do transcendente torna-do sensível, a manifestação de Deus no Cosmo.
A pérola desempenha um papel de centro místico. Simboliza a sublimação dos instintos, a espiritualização da matéria, a transfiguração dos elementos, o termo brilhante da evolução. Assemelha-se ao homem esférico de Platão, imagem da perfeição ideal das origens e dos fins do homem.
O muçulmano representa o eleito para o Paraíso fechado dentro de uma pérola em companhia de sua huri. A pérola é o atributo da perfeição angélica, de uma perfeição, entretanto, que não é dada, mas adquirida por uma transmutação. A pérola é rara, pura, preciosa. Pura porque é reputada sem defeito, porque é branca, porque o fato de ser retirada de uma água lodosa ou de uma concha grosseira não a altera. Preciosa, ela representa o "Reino dos Céus" (Mateus, 13, 45-46).
Deve-se ver nessa pérola, "que se pode adquirir vendendo-se todos os bens", como ensina Diádoco de Potideia, a luz intelectual no coração, a visão beatífica.
Aproximamo-nos aqui da noção de pérola escondida em sua concha: tal como acontece com a verdade e o conhecimento, sua aquisição necessita de esforço. Para Shabestari, a pérola é "a ciência do coração: quando o gnóstico encontrou a pérola, a tarefa de sua vida está completa".
O Príncipe do Oriente dos Atos de Tomás procura a pérola como Percival, o Graal. Essa pérola preciosa, uma vez obtida, "não deve ser jogada aos porcos" (Mateus, 7, 6): o conhecimento não deve ser entregue indiscriminadamente aos que não são dignos dele.
O símbolo é a pérola da linguagem, oculta sob a concha das palavras. A pérola nasceu, segundo a lenda, pelo efeito do relâmpago, ou pela queda de uma gota de orvalho na concha: em todos os casos é o vestígio da atividade celeste e o embrião de um nascimento, corporal ou espiritual, como o bindu no búzio, a pérola-Afrodite em sua concha.
Os mitos persas associam a pérola à manifestação primordial. A pérola em sua concha é como o gênio dentro da noite. A ostra que contém a pérola é mais imediatamente comparada, em diversas regiões, ao órgão genital feminino.
Associada por natureza ao elemento Agua — os dragões a detêm no fundo dos abismos — a pérola se associa também à Lua. O Atharva-Veda a chama de filha de Soma, que é a Lua, assim como a bebida da imortalidade.
Na China antiga, observa-se uma mutação das pérolas — e dos animais aquáticos — paralela às fases da Lua. As pérolas luminosas tomavam emprestado seu brilho à Lua; protegiam do fogo. Mas são ao mesmo tempo água e fogo, imagem do espírito nascendo na matéria.
A pérola védica, filha de Soma, prolonga a vida. Ela é, na China também, símbolo da imortalidade. A roupa ornada de pérolas, ou as pérolas introduzidas nas aberturas do cadáver, impedem a sua decomposição. O mesmo acontece com o jade ou o ouro. Deve-se ressaltar que a pérola nasce da mesma maneira que o jade, possui os mesmos poderes e serve para as mesmas utilizações.
Símbolo de uma ordem análoga: o das pérolas enfiadas em um cordão. É o rosário, o sutratma, a cadeia dos mundos, penetrados e unidos por Atma, o Espírito Universal Assim, o colar de pérolas simboliza a unidade cósmica do múltiplo, a integração dos elementos dissociados de um ser na unidade da pessoa, o relacionamento espiritual de dois ou mais seres; mas o colar quebrado é a imagem da pessoa desintegrada, do universo desequilibrado, da unidade rompida.
A pérola tem um valor simbólico particularmente rico no Irã, tanto do ponto de vista da sociologia quanto da história das religiões. De acordo com uma lenda retomada por Saadi, a pérola é considerada uma gota de chuva caída do Céu dentro de uma concha que vem à superfície do mar e se entreabre para recebê-la. É essa gota de água, semente celeste, que se torna pérola.
Essa lenda tem a sua origem no folclore persa e constitui um tema frequente na literatura. Cita-se ainda um hadith do Profeta: "Deus tem servidores comparáveis à chuva; quando ela cai sobre a terra firme, faz nascer o trigo, quando cai sobre o mar, faz nascer as pérolas."
A pérola intacta é tida como símbolo da virgindade nas obras folclóricas e na literatura persa, assim como nos escritos dos Ahl-i Haqq, e de uma maneira geral, entre os curdos; emprega-se a expressão furar a pérola da virgindade para indicar a consumação do casamento. Em um outro plano, essa mesma seita dos Ahl-i Haqq se refere a esse símbolo: as mães dos avatares de Deus sáo todas virgens e seu nome principal é Ramz-bar, isto é, Segredo do oceano.
Segundo a cosmogonia dos Ahl-i Haqq (Fiéis da Verdade, no Irã) "[...] no início não havia na Existência nenhuma criatura além da Verdade suprema, única, viva e adorável. Sua morada era a pérola e sua essência estava oculta. A pérola estava na concha e a concha estava no mar, e as ondas do mar tudo cobriam."
Assim, em uma poesia de Sekandar-nama, Nizami fala da concepção de Alexandre como da formação de uma pérola real dentro de uma concha fecundada pela chuva da primavera.
Uma linhagem familiar é às vezes comparada a um fio de pérolas regularmente dispostas, durr-i-manzum. A mesma imagem se emprega igualmente a propósito das palavras colocadas em verso.
Na literatura persa, designa-se com o nome de pérola um pensamento refinado, tanto em função de sua beleza quanto do fato de que ele é produto do gênio criador do autor. Diz-se, por exemplo, um pensamento sutil mais fino que uma pérola rara.
Espalhar as pérolas brilhantes fora dos lábios de cornalina é o mesmo que pronunciar palavras brilhantes. Enfiar pérolas é compor versos. No sentido místico, a pérola é também tida como símbolo da iluminação e do nascimento espirituais.
É o que se lê no célebre Hino à Pérola, dos Atos de Tomás. O místico procura sempre atingir seu ideal ou seu objetivo: é "a pérola do ideal". A procura da pérola representa a busca da Essência sublime oculta no Eu. A imagem arquetípica na pérola evoca que é puro, culto, enfiado nas profundezas, difícil de se atingir.
A pérola designa o Carão, a ciência, a criança. "Se uma pessoa sonha que fura uma pérola, ela comenta bem o Carão. Se sonha que vende uma pérola, graças a ela, os benefícios da ciência serão espalhados no mundo".
Hafez fala da "pérola que a concha do tempo e do espaço não é capaz de conter". Hariri exalta "a pérola da Via mística guardada na concha da Lei canônica". No Oriente, e sobretudo na Pérsia, a pérola tem, em geral, um caráter nobre, derivado de sua sacralidade.
É por isso que orna a coroa dos reis. Encontram-se vestígios desse mesmo caráter nos adereços de pérolas, especialmente os brincos, ornados de pérolas raras e preciosas: algo dessa nobreza sagrada se projeta sobre aquele que os porta. Na simbólica oriental dos sonhos, a pérola conserva suas características particulares e é geralmente interpretada como a criança, ou ainda como a mulher e a concubina. Por outro lado, pode significar a ciência ou a riqueza.
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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.