Tradicionalmente, a pedra ocupa um lugar de distinção. Existe entre a alma e a pedra uma relação estreita. Segundo a lenda de Prometeu, procriador do gênero humano, as pedras entregam um símbolo humano íntimo.
A pedra e o homem apresentam um movimento duplo de subida e de descida. O homem nasce de Deus e retorna a Deus. A pedra bruta desce do Céu; transmutada, ela se ergue em sua direção.
O templo deve ser construído com pedra bruta, não com pedra talhada "Ao levantar teu buril sobre a pedra, tu a tornarás profana" (Êxodo, 20, 25; Deuteronômio, 27, 5; 1 Reis, 6, 7).
A pedra talhada não é, com efeito, senão obra humana; ela dessacraliza a obra de Deus, ela simboliza a ação humana que se substitui à energia criadora. A pedra bruta era também símbolo de liberdade; a talhada, de servidão e de trevas.
A pedra bruta é considerada ainda andrógina, constituindo a androginia a perfeição do estado primordial. Sendo ela talhada, os princípios se separam.
A pedra pode ser cônica ou cúbica. A pedra cônica representa o elemento masculino e a pedra cúbica, o elemento feminino. Se o cone repousar sobre um pedestal, reúnem-se assim os princípios masculino, e feminino.
Faz-se frequentemente alusão à pedra erguida dos celtas, que reaparece na forma de campanário nas igrejas. Quando o culto era celebrado sobre a pedra, não se endereçava à pedra em si, mas ao deus, cujo local de residência ela havia se tornado.
Até há pouco, a missa romana era celebrada sobre uma pedra colocada dentro de uma cavidade no altar, na qual foram inseridas relíquias de santos mártires.
As pedras não são massas inertes; pedras vivas caídas do Céu, elas continuam tendo vida depois da queda. A pedra, como elemento da construção, está ligada ao sedentarismo dos povos e a uma espécie de cristalização cíclica. Ela desempenha um papel importante nas relações entre o Céu e a terra: ao mesmo tempo em função das pedras caídas do Céu e em função das pedras ornamentadas ou engastadas (megálitos, bétilos, cairns).
Diversos povos, da Austrália e da indonésia à América do Norte, consideram o quartzo como sendo fragmentos desprendidos do Céu ou do trono celeste: é o instrumento da clarividência dos xamãs.
As pedras caídas do Céu são, além disso, muitas vezes, pedras falantes, instrumentos de um oráculo ou de uma mensagem. Trata-se, na maioria das vezes, de aerólitos, tais como apedra negra de Cibele e diversos de seus homólogos gregos, o paládio de Troia, o escudo dos sálios, a pedra negra encastoada na caaba da Meca, a que o Dalai Lama recebeu do Rei do Mundo.
O caso das pedras de raio é diferente, pois elas são os símbolos do próprio raio, e portanto, da atividade celeste, não de sua presença ou de seu efeito (no mesmo sentido, machado de pedra de Parashu-Rama e o martelo de pedra de Thor). Pode-se citar ainda a pedra caída da fronte de Lúcifer, na qual, segundo Wolfram d'Eschenbach, foi talhado o Graal.
Se as pedras caem do Céu, é porque ele é frequentemente considerado — em especial na China — a abóbada de uma caverna. E é, inversamente, a razão pela qual as concretudes calcárias suspensas nessas abóbadas, as estalactites ou medula de rocha servem para preparar drogas da imortalidade muito apreciadas pelos taoistas.
Se a pedra negra de Cibele, imagem cônica da montanha, era um ônfalo, esta é a função principal das pedras erguidas, das quais a mais conhecida é o Beith-el de Jacó, a casa de Deus.
É sem dúvida também a significação de certos megálitos celtas, e o cairn, pilha de pedras, evoca a montanha central. O ônfalo de Delfos, o altar de Delos, a pedra que, em Jerusalém, sustentava a Arca da Aliança, até as pedras de altares das igrejas cristãs, são símbolos da presença divina ou, pelos menos, suportes de influências espirituais.
É também esse o caso da pedra da coroação de Westminster, que serviu para a sagração dos reis da Irlanda. A mesma significação se encontra no Vietnã, onde as pedras erguidas são sempre habitações de gênios protetores: elas servem de anteparo contra as influências nefastas, que delas se desviam. A pedra é ainda um símbolo da Terra-mãe, e esse foi um dos aspectos do simbolismo de Cibele.
De acordo com diversas tradições, as pedras preciosas nascem da rocha depois de ter amadurecido nela. Mas a pedra é viva e dá a vida. No Vietnã, ocorre de a pedra sangrar sob a ação da picareta.
Na Grécia, após o dilúvio, nasceram homens de pedras semeadas por Deucalião. O homem que nasce das pedras se encontra nas tradições semitas; certas lendas cristãs fazem nascer delas o próprio Cristo. Sem dúvida, é preciso aproximar esse símbolo da transformação de pedras em pão, da qual fala o Evangelho (Mateus, 4, 3). Beith-el (casa de Deus) vai se transformar em Beith-lehem (casa do pão); e o pão eucarístico substituiu a pedra como local da Presença real.
Na China, Yu-o-Grande nasceu de uma pedra, e seu filho, K'i, também nasceu de uma pedra que se quebrou do lado norte. Sem dúvida, não será acaso a Pedra filosofal do simbolismo alquímico constituir o instrumento da regeneração.
A pedra bruta é a matéria passiva, ambivalente: se apenas se exerce sobre ela a atividade humana, ela se envilece, como vimos; se, ao contrário, é
a atividade celeste e espiritual que se exerce sobre ela, com vistas a fazer dela uma pedra talhada acabada, se enobrece.
A passagem da pedra bruta à pedra talhada por Deus, e não pelo homem, é a passagem da alma obscura à alma iluminada pelo conhecimento divino. Aliás, o Mestre Eckhart não ensina que pedra é sinônimo de conhecimento?
O simbolismo era diferente entre os hebreus: a passagem da pedra bruta destinada aos altares à pedra talhada, na construção do Templo de Salomão, é o signo da sedentarização do Povo eleito, e, como notamos no início deste verbete, de uma estabilização e de uma cristalização cíclicas, de uma involução em lugar de um progresso.
No simbolismo maçônico, a pedra cúbica expressa igualmente a noção de estabilidade, de equilíbrio, de objetivo alcançado e corresponde ao sal alquímico. No mesmo contexto, apedra cúbica pontuda é o símbolo da Pedra filosofal: a pirâmide que encima o cubo representa o princípio espiritual estabelecido sobre a base do sal e do solo.
A construção, pedra sobre pedra, evoca, evidentemente, a de um edifício espiritual. Essa ideia é longamente desenvolvida no Pastor de Hermas, mas tem sua origem em duas passagens do Evangelho: a que faz de Pedro (Kephas) a "pedra fundamental" da construção eclesiástica (Mateus, 16, 18), a "primeira pedra" do edificio; a que, de Mateus, 21, 42, a Lucas 20, 17, retoma o texto do Salmo 118: "a pedra que os construtores tinham rejeitado tornou-se a pedra angular".
Essa noção de pedra angular, retomada pela Maçonaria, é pouco compreensível se não se faz a retificação que fazem hoje os tradutores da Bíblia: é, na realidade, a pedra da cumeeira, isto é, a chave da abóbada. É a pedra da finalização, do coroamento, e o símbolo de Cristo, descido do Céu para cumprir a Lei e os Profetas.
Essa noção de consumação da Grande Obra se aplica exatamente à Pedra filosofal, aliás, às vezes tomada como símbolo de Cristo. Ela é "o pão do Senhor", escreve Angelus Silesius: "Procura-se a pedra do ouro (Goldstein), e deixa-se a pedra angular (Eckstein), através da qual se pode ser eternamente rico, são e sábio" (deve-se notar que Eckstein também tem sentido de diamante).
A pedra, que é o Elixir de vida e que, segundo Raymond Lulle, regenera as plantas, é o símbolo da regeneração da alma pela graça divina, de sua redenção. É possível fazer ouro com pedras? - Pergunta ironicamente o comentador do Tratado da flor de ouro.
O Pao-p'u-tse assegura que dela só se pode tirar cal. Entretanto, o grande guru Nagar-juna assegurava que a transmutação era possível, em virtude de uma energia espiritual suficiente. Se entendermos o ouro como sendo a imortalidade, e as pedras como sendo os homens, todos os métodos de alquimia espiritual visam exatamente a essa operação. "A pedra angular que eu desejo", escreve Silesius, "é a minha tintura de ouro e a pedra de todos os sábios".
Jean-Paul Roux, estudando as crenças dos povos altaicos, opõe a significação simbólica da pedra à da árvore. Semelhante a si mesma, depois que os ancestrais mais remotos a ergueram ou sobre ela gravaram suas mensagens, ela é eterna, ela é o símbolo da vida estática, enquanto a árvore, submetida a ciclos de vida e de morte, mas que possui o dom inaudito da perpétua regeneração, é o símbolo da vida dinâmica.
Essa pedra-princípio é representada por pedras erguidas que às vezes encarnam a alma de ancestrais, especialmente na África sub-saariana e a respeito das quais se conhece, por outro lado, a associação com o falo: coisa que explica o contexto orgiástico que as cercou em certas regiões, marcadamente na Bretanha.
O costume dos mandchus que erigiam grandes árvores e colunas de pedra resume essa distinção dos dois aspectos arquetípicos da Vida, o estático e o dinâmico, atribuídos por esse autor à árvore e à pedra.
De um ponto de vista sociológico, a hesitação e a passagem alternada dos povos entre a civilização do perecível e a do duro — sendo a dureza, bem entendido, em primeiro lugar, a da pedra — podem ser, portanto, consideradas o resultado de uma opção entre esses dois aspectos — ou qualidades — complementares da vida. "As pedras ditas de raio e que não são, na sua maioria, senão sílex pré-históricos, eram consideradas a própria ponta da flecha do relâmpago e, como tais, veneradas e piamente conservadas. Tudo o que cai das regiões superiores participa da sacralidade uraniana; é por isso que os meteoritos, abundantemente impregnados do sacro sideral, eram cultuados".
Essas pedras, especialmente na África, estão associadas ao culto dos deuses do Céu e são, às vezes, objetos de adoração. As pedras de raio, geralmente meteoritos, por caírem do Céu como a chuva, são consideradas símbolos e instrumentos da fertilidade.
Por outro lado, "o bétilo marca o local onde Deus desceu... É o mais antigo e o mais difundido de todos os utensílios humanos, o símbolo universal da liberação da natureza bruta, e é por conseguinte o símbolo da ideia de divindade... As pedras de raio são antes de tudo em si mesmas forças carregadas de um poder mágico, fetichista, intrínseco. Mais tarde, as pontas de flecha, os machados e as outras pedras, que são vistas como projéteis caídos do Céu, são considerados como tendo sido enviados do alto por um lançador de Tempestade ou Fulminador. Depois, símbolos feitos à mão pelo homem a partir desses projéteis — o machado duplo minoico, a imagem furcada do relâmpago, o bidente romano, a tribula hindu, a triaina grega, arma de Poseidon, que faz tremer a terra e o Keraunos de Zeus, que parece combinar o forcado do relâmpago com o poder dos dois gumes do machado de duas lâminas — todos esses objetos tornam-se os símbolos do Poder que faz tremer, e, mais tarde, atributos pintados do deus ao qual é dado esse poder".
Acima: foto da entrada de uma sepultura em Israel, com a pedra que rola na entrada (Mateus 27, 57-61)
O machado de pedra polida permaneceu sendo o símbolo do raio entre os chorti do México, assim como entre os bambara. Para os bambara, as pedras de raio podem proteger do raio ou, ao contrário, atraí-lo: suspensas no teto da choupana, elas espantam o raio; depositadas sobre um abrigo no meio da selva, atraem-no.
Na simbologia do homem-microcosmo, são associadas ao crânio, portanto, ao cérebro, domínio do pensamento. Entre os fangs, do Gabão, uma tradição reza que se coloque um machado ou pedra de raio entre as pernas da parturiente para facilitar o parto.
Entre os iacuto (Ásia central), "as parturientes bebem água dentro da qual colocaram pedaços de pedra desse tipo, para livrarem-se com facilidade da placenta. Recorre-se ao mesmo método no caso de uma obstrução das vias urinárias e intestinais".
As pedras de chuva personificam o espírito petrificado dos ancestrais; são antes símbolos do hábitat dos ancestrais ou de sua permanência indefinida em um lugar por sua força. A pedra fixa, por assim dizer, a alma dos ancestrais, pacifica-a, retém-na, para fertilizar o solo e atrair a chuva (pedras de chuva); ela é, assim, civilizadora, e vem a representar, com os ancestrais, os seus deuses e heróis tutelares.
Pedras e rochedos materializam uma força espiritual; vem daí que sejam também objetos de culto. Jovens esposos os invocam para obter filhos; as mulheres se esfregam nelas para serem fecundadas, talvez pelos ancestrais (pedras de amor); mercadores as untam com óleo para garantir a prosperidade; às vezes, são temidas como guardiães da morte, e lhes imploram que defendam o lar e o grupo.
As pedras de chuva, geralmente de origem meteórica, são também consideradas emblemas da fertilidade. Fazem-se oferendas a elas em caso de seca ou na primavera, para garantir uma boa colheita. "A análise cuidadosa das inumeráveis pedras de chuva sempre ressalta a existência de uma teoria que explica a capacidade que elas têm de comandar as nuvens; trata-se ou de sua forma, que tem uma certa 'simpatia' para com as nuvens e o raio, ou de sua origem celeste (elas teriam caído do Céu), ou do fato de pertencerem aos ancestrais; ou ainda, porque foram encontradas na água, ou porque sua forma lembra a dos peixes, sapos, serpentes, ou qualquer outro emblema aquático. Nunca a eficiência dessas pedras reside nelas próprias; elas participam de um princípio ou encarnam um símbolo... Elas são os signos de uma realidade espiritual outra, ou os instrumentos de uma força sagrada da qual são apenas receptáculo".
Segundo o cronista Sahagun, as pedras de chuva, chamadas ouro de chuva pelos antigos mexicanos, supostamente protegiam da tempestade e curavam os calores interiores (febres). A maior parte das aldeias buriatas possui sua pedra do Céu, conservada dentro de uma caixa presa ao pilar, coluna celeste, plantada no meio da aldeia.
Na primavera, essas pedras sagradas são ritualmente aspergidas e se fazem a elas sacrifícios com o fim de atrair as chuvas e assegurar a fertilidade do verão. Agapitov vê nessa coluna um resquício de culto fálico.
Na Mongólia, imagina-se que é possível encontrar, seja nas montanhas, seja na cabeça de um cervo, de um pássaro aquático ou de uma serpente, e às vezes na barriga de um boi, uma pedra que traz o vento, a chuva, a neve e o gelo.
Crenças similares existem entre outros povos de origem altaica, tais como os iacuto e os tártaros. Em pleno verão, é costume prendê-las às crinas dos cavalos para protegê-los da seca; para trazer a chuva, são mergulhadas em um vaso de água fria. A mesma crença existia na Pérsia, o que explica o fato de a palavra que designa essa pedra entre os tártaros ser de origem persa.
A Pedra Negra de Pessinonte (na Ásia Menor), que era a expressão concreta da Grande Deusa Mãe, Cibele, adorada pelo povo frígio, foi transportada para Roma no início do séc. III, com grande pompa, e instalada sobre o Palatino. Essa Pedra Negra simbolizava a entronização em Roma de uma divindade oriental, primeira conquista mística de uma vaga que iria rebentar e apagar as mais antigas tradições da Cidade. Essa pedra representava e exercia toda a força invisível, mas irresistível, de uma presença real.
Entre os omahas (indígenas da pradaria) uma pedra negra representa o trovão, do mesmo modo como um seixo translúcido é o símbolo da força da água.
A pedra erguida, quer seja o linga hindu ou o menir bretão, é um símbolo universal. É segundo ritos análogos que os hindus ou os bretóes vêm buscar junto a ela a cura para a sua esterilidade. Essa acepção da pedra é bem próxima daquela das grandes árvores sagradas, também elas fálicas. O dia mais propício para as visitas, que são acompanhadas de oferendas de leite, de manteiga etc, a essas pedras, são a segunda-feira, dia da Lua, ou a sexta-feira, dia de Vênus.
As bretãs, escreve J. Boulnois, esfregavam o ventre com o pó tirado da rocha do dólmen ou do menir, mas também com a água que ficava retida nas sinuosidades da pedra.
O dólmen é considerado a habitação dos Ancestrais, que o fecundam. "Para a massa dos drávidas", acrescenta esse autor, "a pedra, como a árvore, ou o Céu, é um fixador de espíritos bons ou maus." Daí a utilização terapêutica das pedras, que, colocadas sobre a cabeça do doente, extirpam de seu corpo o espírito da febre. Daí também o costume dravídico de jogar uma pedra no caminho, atrás de si, ao voltar de uma cerimônia funerária, para deter o espírito do morto, no caso de ele querer voltar.
Existem também pedras furadas, através das quais se joga uma moeda ou se passa a mão, o braço, a cabeça ou todo o corpo; atribui-se a elas a proteção contra os malefícios e a posse de virtudes fertilizantes e fecundadoras.
Certos etnólogos (John Marshall) acham que a ação ritual de passar pelo buraco de uma pedra implicaria a crença em uma regeneração por intermédio do princípio cósmico feminino.
No Oriente antigo e na Austrália, associada às provas iniciáticas, a pedra furada é um símbolo da vagina. Pedras furadas referem-se a um simbolismo solar, a um ciclo da libertação através da morte e do renascimento através do útero.
A pedra lisa, segundo uma crença peúle, representa as duas ciências: a exotérica (face branca), a esotérica (face negra). Ela é símbolo do conhecimento do mundo, porta da via que une as duas regiões, dos vivos e dos mortos.
Existem ainda pedras ditas sonoras. A Pedra da Soberania, ou Lia Fail (impropriamente chamada de Pedra do Destino), é, na Irlanda, um dos talismãs de Tuatha De Danann. Ela gritava sob cada um dos príncipes que deveriam aceder à soberania; e foi porque ficou muda quando colocou o pé sobre ela, que o herói Cuchulainn a despedaçou. Ela se situava simbolicamente em Tara, capital da realeza suprema.
Outras pedras eram instrumentos indispensáveis da adivinhação, como mediadoras entre Deus e o profeta. A sibila transportava consigo uma pedra e subia nela para dizer as profecias. Quando Apolo trabalhava na construção do muro de Megareia, pousava sua lira sobre uma pedra; se se jogasse um seixo sobre essa pedra, ela produzia um som musical harmônico.
As pedras colocadas em pilhas também se revestem de um valor simbólico. Nas gargantas dos Andes peruanos, assim como na Sibéria, o costume reza que os viajantes adicionem uma pedra às pilhas, que, com o tempo, adquirem dimensões piramidais.
Jean-Paul Roux vê nessa tradição um exemplo da alma coletiva: "toda acumulação de objetos modestos dotados de almas reforça o potencial de cada um deles e acaba criando uma nova alma extremamente poderosa. A alma de um seixo qualquer é frágil. Mas ela se soma a todas as outras almas de seixos inumeráveis, e a alma coletiva do amontoamento se torna uma grande força numinosa. Constitui-se essa força empilhando-se pedras em certos locais selecionados e, ainda aí, a alma coletiva e sagrada do obo é inseparável da alma sagrada do solo sobre o qual ela foi erigida".
Segundo as tradições do Islã, no curso da Peregrinação (Hajj), a pessoa deve se dirigir a Mina e jogar seixos nos limites de Satã (limar). O costume de jogar pedras sobre um túmulo é muito difundido. A lapidação é considerada um meio de se lutar contra o contagioso mal do erro e da morte. Esse rito mágico se islamizou: traz-se, em oferenda simbólica, uma pedra a um marabu. Tem-se o costume de jogar uma pedra sobre as pilhas de pedras para espantar as almas que retornam, a alma do morto, os djinns.
Os doentes (especialmente as mulheres) que vêm pedir sua cura a um marabu esfregam a parte doente com uma pedra. Essas pedras não devem ser tocadas depois, pois o mal se transfere a elas e pode ser retransmitido por contaminação.
Esses montes de pedras podem ter diferentes significações: ora a de simples signos que indicam um caminho, um poço, um túmulo etc; ora um sentido comemorativo, recordando um acontecimento. São erguidos no local de um assassinato ou em um local onde alguém morreu de um modo que inspira piedade (chama-se menzeh).
Também se erguem menzeh sobre os túmulos nos cemitérios. Fazem-se, às vezes, juramento sobre uma pilha de pedras. No lugar de onde se percebem os mausoléus, sobretudo nos locais elevados, e especialmente nas gargantas nas montanhas, encontram-se pequenas pirâmides de pedras. A elas se juntam uma ou duas em homenagem ao santo, para garantir uma boa viagem. Certas pilhas representam elas próprias, simbolicamente, túmulos de santos.
Para certos sociólogos, trata-se de um sacrifício, de uma oferenda aos deuses, aos espíritos, às almas dos mortos. Para outros, como E. Doutte, "a pedra somada à pilha seria o símbolo de união do crente com o espírito ou o deus do cairn ou pilha sagrada".
Para Frazer, "a transferência do mal para uma pedra, ou ainda para um homem ou um animal por intermédio de uma pedra, é uma prática de magia comum a todos os primitivos do mundo".
A pessoa se livra dos sonhos com mortos contando-os à terra, sob uma pedra, que assim encobre o malefício. As maldições são frequentemente encarnadas nas pedras: jogam-se sete pedras em alguém; ou se erige uma pilha de pedras de maldição, a qual é dispersa desejando-se que sejam do mesmo modo dispersas as coisas que tornavam feliz a pessoa a quem se quer fazer mal.
As pedras preciosas são o símbolo de uma transmutação do opaco ao translúcido e, em um sentido espiritual, das trevas à luz, da imperfeição à perfeição. É assim que a nova Jerusalém é toda revestida de pedrarias. "Essa muralha é feita de jaspe e a cidade é de ouro fino como o vidro bem puro. Os assentamentos dessa muralha são ornados com pedrarias de todo tipo: o primeiro assentamento é de jaspe, o segundo, de safira, o terceiro, de calcedônia, o quarto, de esmeralda, o quinto, de sardônica, o sexto, de cornalina, o sétimo, de crisólito, o oitavo, de berilo, o nono, de topázio, o décimo, de crisópraso, o décimo primeiro, de jacinto, o décimo segundo, de ametista. E as doze portas são doze pérolas" (Apocalipse, 21, 18-22).
Isso significa que dentro desse universo novo todas as condições e todos os níveis de existência terão passado por uma transmutação radical no sentido de uma perfeição sem igual aqui embaixo e de natureza toda luminosa ou espiritual.
Segundo C. Léonard, a esmeralda refreia a lascividade, aumenta a memória; o rubi mantém a boa saúde, protege do veneno, reconcilia; a safira torna pacífico, amável e piedoso; segundo J. Cardan, ela protege contra as mordidas de cobra e de escorpião; segundo Santa Hildegarda, o diamante, colocado na boca, preserva da mentira e facilita o jejum; o topázio neutraliza os líquidos envenenados; a pérola é soberana contra as dores de cabeça.
Na astrologia, as pedras preciosas correspondem a metais e planetas: o cristal corresponde à prata e à Lua; o ímã, ao mercúrio e ao planeta do mesmo nome; a ametista, à pérola, ao cobre e a Vênus; a safira e o diamante, ao ouro e ao Sol; a esmeralda e o jaspe, ao Ferro e a Marte; a cornalina e a esmeralda, ao estanho e a Júpiter; a turquesa e as pedras negras, ao chumbo e a Saturno.
As pedras preciosas são utilizadas no Islã para inúmeras práticas mágicas. Elas atuam como amuletos ou remédios, para garantir uma posse ou para se livrar dela. O coral, a cornalina, o nácar, o âmbar são considerados protetores contra mau-olhado.
Vistas em sonhos, as pedras preciosas se revestem, segundo um importante tratado iraniano, do seguinte simbolismo: a cornalina e o rubi são signos de alegrias, de prosperidade; e coral, a mesma coisa; a ágata é signo de respeito e de fortuna; a turquesa, de vitória e de longevidade; a esmeralda e o topázio designam um homem corajoso, leal e piedoso, assim como riquezas legítimas.
Seria possível multiplicar esses jogos de correspondências, que não estão de acordo uns com os outros exceto em um pequeno número de pontos. Não está aí o essencial do simbolismo.
Segundo a tradição bíblica, em função de seu caráter imutável, a pedra simboliza a sabedoria.Ela é frequentemente associada à água. Assim, Moisés, na entrada e na saída do deserto, faz surgir uma fonte batendo em uma pedra (Exodo, 17,
6).
Ora, a água simboliza também a sabedoria. A pedra se relaciona ainda à ideia de mel e de óleo (Deuteronômio, 32, 13; Salmos, 80, 17; Gênesis, 28, 18).
É possível também aproximar a pedra do pão. São Mateus fala do Cristo conduzido pelo Espírito no deserto, e o diabo lhe sugere que transforme as pedras em pão.
O termo bétilo , empregado a propósito da visão de Jacó, tem o sentido em hebraico de casa de Deus (Beith-el). O sentido de Belém (Beith-lehem), que significa casa do pão, é estreitamente aparentado, como notamos, a Beith-el.
Guillaume de Saint-Thierry, comentando um texto do Cântico dos cânticos segundo a Vulgata (2, 17), dirá que Beithel significa a casa de Deus, isto é, a casa das vigílias, da vigilância; aqueles que pernoitam em um tal lugar são os filhos de Deus visitados pelo Espírito Santo. Essa casa é chamada a casa das vigílias porque aqueles que aí permanecem esperam a visita do esposo.
No Templo, a pedra é dita santa, não somente porque ela foi santificada através do uso da consagraçâo, mas porque ela corresponde à sua função e responde sua situação de pedra. Ela está no seu lugar, na sua ordem própria.
Hildegarda de Bingen descreve as virtudes, aparentemente pouco compatíveis, da pedra, que são em número de três: a umidade, a palpabilidade e a força ígnea.
A virtude da umidade impede que ela se dissolva; graças à sua palpabilidade, pode ser tocada; o fogo que está em suas entranhas a torna quente e permite assegurar sua dureza. Hugues de Saint-Victor estuda também a propriedade tripla da pedra, e em um sermão sobre a consagração, dirá que as pedras representam os fiéis sinceros e firmes pela estabilidade da fé e a virtude da fidelidade.
Quando da conclusão dos tratados, os romanos imolavam um porco a Júpiter, golpeando-o com uma pedra de fogo, como garantia de seu juramento e de sua boa-fé, sendo Júpiter o deus dos juramentos (deus fidius). Se eles viessem a descumprir suas promessas, o deus os golpeava do mesmo modo como eles abateram o porco, com tanto maior violência quanto tinha ele força e poder.
A pedra de fogo, ou o sílex, é aqui claramente o símbolo do raio, instrumento da vingança divina. Ela se abate sobre o porco, movido pela mão do homem, assim como o raio se abaterá sobre o devedor, movido pela mão de Deus.
Para o Islã, a pedra por excelência é a Pedra Negra da Caaba em Meca. Chama-se a mão direita de Deus (yamin Allah). O fiel faz o juramento de fidelidade colocando a mão sobre essa pedra, ou mesmo beijando-a. Esse ato se chama istilam (obtenção, subentendido, do pacto). No dia da Ressurreição, essa pedra testemunhará a favor
dos fiéis que virão em peregrinação.
Acima: foto obtida no laboratório da NASA com a pedra da Lua trazida pela missão Apolo 11, um símbolo da vitória dos Estados Unidos na corrida espacial. Pedaços de pedras trazidas da Lua foram enviados para laboratórios de vários países do mundo na década de 1970, provando que os astronautas estiveram lá, pois as características químicas e de radiação encontradas nessas pedras não existem nas pedras do planeta Terra.
A União Soviética, o principal adversário dos Estados Unidos na corrida espacial, também recebeu algumas amostras dessas pedras e as analisaram em laboratório. Os resultados obtidos pelos Soviéticos confirmaram a afirmação da NASA.
Atualmente, os veículos robôs semi-autônomos da NASA estão trabalhando na superfície do planeta Marte, com equipamentos que furam, pulverizam e analisam as pedras marcianas em buscas de vestígios de vida microbiana que possam ter existido lá, milhões de anos atrás.
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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.