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O simbolismo do Sol é tão diversificado quanto rico de contradições em relação à realidade solar. Se não é o próprio deus, é, para muitos povos, uma manifestação da divindade (epifania uraniana).

Pode ser concebido como o filho do Deus supremo e irmão do arco-íris. É o olho do Deus supremo, para os pigmeus semong, os fueguinos e os boximanes.

Na Austrália, é considerado filho do Criador e figura divina favorável ao homem. Os samoiedos veem no Sol e na Lua os olhos de Num (= Céu): o Sol é o bom olho, a Lua, o mau. O Sol também é considerado fecundador. Mas também pode queimar e matar.

O Sol imortal nasce toda manhã e "se põe toda noite no reino dos mortos; portanto, pode levar com ele os homens e, ao se pôr, dar-lhes a morte; mas, ao mesmo tempo, pode guiar as almas pelas regiões infernais e trazê-las de volta à luz no dia seguinte.

Função ambivalente de psicopompo assassino e de hierofante iniciático. Um simples olhar para o pôr do sol pode trazer a morte", segundo certas crenças. O Sol gera e devora os seus filhos, dizem os upanixades. Na República (508 a.C.), Platão faz dele "a imagem do Bem tal como se manifesta na esfera das coisas visíveis; para os órficos, ele é o conhecimento do mundo".

O Sol é a fonte da luz, do calor, da vida. Seus raios representam as influências celestes — ou espirituais — recebidas pela Terra. Guénon observou que a iconografia algumas vezes representa esses raios sob uma forma alternativamente retilínea e ondulada: trata-se de simbolizar a luz e o calor, ou, de outro ponto de vista, a luz e a chuva, que também são os aspectos yang e yin do brilho vivificante.

Além de vivificar, o brilho do Sol manifesta as coisas, não só por torná-las perceptíveis, mas por representar a extensão do ponto principal, por medir o espaço.

Os raios solares (aos quais se associam os cabelos de Shiva) são, tradicionalmente, sete, correspondendo às seis dimensões do espaço e à dimensão extracósmica, representada pelo próprio centro.

Esta relação entre o brilho do Sol e a geometria cósmica é expressa na Grécia através do simbolismo pitagórico. É também o Ancião dos dias de Blake, deus solar medindo o Céu e a terra com um compasso. Os textos hindus fazem do Sol a origem de tudo o que existe, o princípio e o fim de toda manifestação, o alimentador (savitri).
Sob outro aspecto, é verdade, o Sol é também destruidor, o princípio da seca, à qual se opõe a chuva fecundadora. Assim, na China, os sóis excessivos deveriam ser abatidos por meio de flechas.

Os ritos para a obtenção de chuva incluem, às vezes — como por exemplo, no Kampuchea (atual Camboja) —, a morte de um animal solar. A produção e a destruição cíclicas fazem dele um símbolo de Maya, mãe das formas e ilusão cósmica.
De uma outra maneira, a alternância vida-morte-renascimento é simbolizada pelo ciclo solar: diário (simbolismo universal, mas muito rico nos textos védicos); anual (ou solstício). O Sol aparece, então, como um símbolo de ressurreição e de imortalidade.

Os imortais chineses absorvem a essência solar, assim como as sementes de girassol, cuja relação com o simbolismo solar é evidente. O Sol é um aspecto da Árvore do mundo — da Árvore da vida — que se identifica com o raio solar.

O Sol está no centro do Céu como o coração no centro do ser. Mas trata-se do Sol espiritual, que o simbolismo védico representa imóvel no zênite, e que é também chamado de coração do mundo ou olho do mundo.

É a morada de Purusha ou de Brahma; é o Atma, o Espírito Universal. O raio solar que liga Purusha ao ser corresponde a sushumna, a artéria coronária sutil da ioga. Lembra o simbolismo do fio e não pode deixar de evocar o simbolismo, evidentemente solar, da teia de aranha.

Como coração do mundo, o Sol é às vezes representado no centro da roda do Zodíaco; manifesta-se de uma forma análoga através dos doze Aditya. Se o símbolo universal do carro solar geralmente tem relação com o movimento cíclico, a roda do carro (o de Surya só tem uma roda) é, em si, símbolo do sol radioso.

Se a luz irradiada pelo Sol é o conhecimento intelectivo, o próprio Sol é a Inteligência cósmica, assim como o coração é, no ser, a sede da faculdade do conhecimento.

O nome de Citadela solar ou de Cidade do sol (Heliópolis) é muitas vezes dado ao centro espiritual primordial. É a sede do Legislador cíclico (Manu), a Síria de Homero surya, sol, situada além de Ogígia, onde estão as revoluções do sol.

Foi do mundo hiperbóreo que saiu Apolo, deus solar por excelência, e deus iniciador, cuja flecha é igual a um raio de sol.

O Sol é também emblema de Vishnu, de Buda (o Homem de Ouro, o Sol-Buda, como dizem certos textos chineses); de Cristo — seus doze raios são os doze apóstolos; ele é chamado Sol justitiae (Sol de justiça) e também Sol invictus (Sol in-vencível).

Jesus aparece como um Sol que irradia a justiça, escreve Hesíquio de Batos, isto é, como o Sol espiritual, ou o coração do mundo. Ele é, diz ainda Filoteu, o Sinaita, o Sol da verdade, o que evoca a transfiguração solar do Tabor. O crisma, monograma do Cristo, lembra uma roda solar.

Devemos acrescentar, ainda, que o Sumo Sacerdote dos hebreus trazia no peito um disco de ouro, símbolo do Sol divino.

Analogamente, o Sol é um símbolo universal do rei, coração do império. Se a mãe do imperador Wu dos Han deu à luz depois de ter sonhado que
o Sol entrava no seu seio, o Sol aqui não é só um símbolo de fecundação, mas, principalmente, símbolo imperial.

O Sol nascente é não só o emblema do Japão, mas seu próprio nome (Nihon). O ancestral das dinastias angkorianas chama-se Baladitya (sol nascente) e a sua ação é expressamente comparada — como a do imperador chinês no Ming-t'ang— a uma revolução zodiacal.

A circum-ambulaçáo se efetua no sentido solar em todos os lugares onde os templos se abrem para o leste, origem do ciclo cotidiano. O princípio solar é representado por um grande número de flores e de animais, alguns dos quais lembraremos aqui (crisântemo, lótus, girassol, águias, veado, leão etc.), e por um metal, o ouro, alquimicamente designado como o sol dos metais.

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A Lua é sempre yin em relação ao Sol yang, pois este irradia a sua luz diretamente, enquanto a Lua reflete a luz do Sol. Portanto, um é princípio ativo, e outro, passivo.

Isto tem uma aplicação simbólica muito ampla: considerando a luz como conhecimento, o Sol representa o conhecimento intuitivo, imediato; a Lua, o conhecimento por reflexo, racional, especulativo.

Consequentemente, o Sol e a Lua correspondem respectivamente ao espírito e à alma (spiritus e anima), assim como a suas sedes — o coração e o cérebro. São a essência e a substância, a forma e a matéria: seu pai é o Sol, sua mãe, a Lua, lê-se na Tábua de Esmeralda hermética.

Segundo Shabestari, o Sol corresponde ao Profeta, e a Lua, ao wali, pois o segundo recebe a luz do primeiro. A dualidade ativo-passivo, macho-fêmea —que é também a do fogo e da água — não é uma regra absoluta.

No Japão, e também entre os montanheses do Vietnã do Sul, é o Sol que é feminino, a Lua, masculina (é interessante observar que na língua alemã também).

É que o aspecto feminino é considerado ativo, pois é fecundo; para os radhés, é a Deusa Sol que fecunda, incuba e dá a vida. É também por essa razão que, embora os olhos dos heróis primordiais (Vaishvanara, Shiva, P'an-ku, Lao-kiun) sejam o Sol e a Lua (olho direito = Sol; olho esquerdo = Lua), as correspondências, no caso de Izanagi, são invertidas.

A correspondência com os olhos lembra outra correspondência: o olho esquerdo corresponde ao futuro, o olho direito, ao passado; assim, o Sol fica com a intelecção, a Lua, com a memória.
Esses olhos, solar e lunar, correspondem às duas nadi laterais da ioga: ida lunar e pingala solar. Além disso, a viagem do ser libertado, a partir do resultado da nadi central, se desenvolve, seja em direção à esfera do Sol (a via dos deuses, devayana), seja em direção à esfera da Lua (a via dos Ances-trais, pitri-yana): saída do cosmo no primeiro caso, renovação cíclica, no segundo.

No tantrismo, ida e pingala correspondem, enquanto Lua e Sol, a Xákti e a Shiva, mas a natureza lunar de Shiva às vezes inverte as perspectivas.

A ioga é a união do Sol com a Lua (ha e tha, donde Hatha-ioga), representados pelos sopros grana e apana, ou ainda pelo sopro e pelo sêmen, que são o fogo e a água. A mesma dualidade se exprime no simbolismo alquímico-tântrico dos chineses, pelos tríganos li e k'an, que, inclusive, I-Ching efetivamente faz corresponder ao Sol e à Lua.

A dualidade Sol-Lua é ainda a de Vishnu e Shiva, das tendências sattva e tamas. É possível encontrá-la nas dinastias solares e lunares da Índia, do Kampuchea (atual Camboja), do Champa. A união do Sol e da Lua é Harihara, parte Vishnu, parte Shiva, símbolo favorito da arte pré-angkoriana. E também é, em chinês, luz (ming), cujo caractere é a síntese daquele que designam o Sol e Lua.

Nas tradições mesoamericanas, o simbolismo solar se opõe ao simbolismo lunar em outro ponto: "o pôr do sol não é visto como uma morte (ao contrário do caso da Lua durante os três dias de obscuridade), mas como uma descida do astro às regiões inferiores, ao reino dos mortos. Ao contrário da Lua, o Sol tem o privilégio de atravessar o Inferno sem se submeter à morte".
Daí vem a qualidade propriamente solar da águia nos atributos xamânicos. A oposição Sol-Lua abrange geralmente a dualidade Macho-Fêmea. Assim, J. Soustelle conta que, "segundo uma antiga tradição, em Teotihuacan, homens eram sacrificados ao Sol e mulheres à Lua".

Para os antigos mexicanos, estamos vivendo um quinto Sol. Os quatro primeiros sóis foram, sucessivamente, o da pantera, do vento, da chuva (ou do fogo) e da água.

O primeiro é o de Tezcatlipoca, ligado ao frio, à noite, ao norte; o segundo, de Quetzalcoatl sob a sua primeira forma, ligado aos sortilégios e ao oeste; o terceiro, de Tlaloc, deus da chuva e do sul; o quarto, de Calchiuitlicue, deusa da água, ao leste. O nosso Sol, o quinto, está sob o signo de Xiuhtecutli, uma das divindades do fogo; é às vezes representado por uma borboleta. T

odas essas eras, denominadas sóis, chegaram ao fim por cataclismas: as quatro panteras devoraram os homens; os quatro ventos os levaram; as quatro chuvas e as quatro águas os submergiram; a era atual terminará com quatro terremotos — fim do quinto Sol.

No panteão asteca, a grande divindade do Sol do meio-dia, huitzilopochtli, é representada por uma águia segurando no bico a serpente estrelada da noite.

A dualidade simbólica fundamental subentendida pela díade Sol-Lua é resumida de modo surpreendente pelos atributos das metades exogâmicas dos povos omahas — materializadas, nos seus acampamentos, pela separação das tendas em dois semicírculos contrapostos: a primeira metade rege as atividades sagradas, associadas ao Sol, ao dia, ao norte, ao alto, ao princípio masculino, ao lado direito; a segunda metade, às funções sociológicas e políticas, associadas à Lua, à noite, ao baixo, ao princípio feminino, ao lado esquerdo.

Para os dogons do Mali, cujo sistema cosmogônico é inteiramente dominado pelo simbolismo lunar, o Sol não é macho, mas fêmea. Ele é descrito como um pote de barro cercado de uma espiral de oito voltas de cobre vermelho. É, assim, o protótipo da matriz fecundada: o pote de barro representa a matriz feminina que contém o princípio vital; o helicoide de cobre vermelho é o sêmen masculino que se enrola em torno da matriz para fecundá-la; mas este sêmen é também luz, água e verbo. O número de anéis de cobre — oito — é, enfim, o número da criação realizada, da palavra e da per-feição. O protótipo da matriz foi moldado pelo Deus supremo Amma com argila úmida, antes de colocar no Céu os dois luminares.

Para os falis do norte da República dos Camarões, dois vasos de barro, um plano e outro oco, representam o Sol e a Lua. Seus protótipos, no exterior, forrados de ferro, e no interior, de cobre, teriam sido roubados do Céu pela primeira oleira, mulher do primeiro ferreiro, antes da descida à Terra deste casal primordial.

Na tradição peúle, o Sol é o próprio olho de Gueno (deus): "Quando a criação foi completada, Gueno tirou o Sol de sua órbita para fazer dele o monarca zarolho, pois o seu olho único era suficiente para ver tudo o que se passa na terra, para aquecê-la e iluminá-la".

Para os povos da Ásia central, principalmente os do Vale do Amor, originalmente teriam existido três ou quatro sóis, cujo calor extremo e luz cegante tornavam a terra inabitável. Um herói ou um deus salvou a humanidade abatendo com flechas — na maioria dos mitos — os dois ou três primeiros sóis. De acordo com alguns desses mitos, esses primeiros sóis teriam incendiado a terra e o carvão teria provindo desse incêndio.
Lendas semelhantes são encontradas na China (com dez sóis), na Índia (com sete) e em Sumatra (com oito). Uma lenda buriata associa o Sol ao cavalo da miragem. O Sol é fêmea (Mãe-Sol), e a Lua, macho (Pai-Lua) nas civilizações pastorais nômades.

É o caso na maior parte das tribos turco-mongóis da Ásia central. O nome do Sol era feminino em celta, como em todas as línguas indo-europeias antigas. A sua personificação mitológica é Lug (luminoso), dito grianainech (rosto de sol).

O adjetivo também é aplicado, por analogia ou extensão, ao deus da guerra Ogme que, por definição, pertence ou comanda a parte escura do mundo. O Sol é visto sobretudo como um dos elementos fundamentais do universo.

É a testemunha mais importante sobre a qual se apoia uma das fórmulas comuns do juramento irlandês: Ele prometeu ao povo de Leinster, pelo sol, pela lua, pela água, pelo ar etc. "Um grande número de hagiógrafos irlandeses evocaram, ou vituperaram o culto do Sol dos antigos gálicos, mas trata-se, sem dúvida, de uma concepção bastante simplista e estereotipada da tradição pré-cristã.

Um glossário O'Davoren" fala da grande ciência do Sol (imbus greine). Em todos os textos irlandeses e gálicos, em que é utilizado para comparações ou metáforas, o Sol serve para caracterizar, não só o brilhante ou o luminoso, mas tudo o que é belo, amável, esplêndido. Os textos gálicos muitas vezes designam o Sol através da metáfora olho do dia e, olho, em irlandês (sul), que é o equivalente da denominação bretã de sol, enfatiza o simbolismo solar do olho.

Em astrologia, o Sol é símbolo de vida, calor, dia, luz, autoridade, sexo masculino e de tudo o que brilha. Se parece ser reduzido pelos astrólogos ao papel de um simples planeta, comparável a um Marte ou a um Júpiter, é principalmente porque a sua influência é, por assim dizer, dividida em dois campos bem distintos: influência direta — sua posição no Céu; e indireta — sua posição no Zodíaco.

Com efeito, toda a influência dos signos do Zodíaco é de essência solar; é, na reali-dade, a influência do Sol, refletida ou polarizada pela órbita terrestre. Enquanto símbolo cósmico, o Sol ocupa a posição de uma verdadeira religião astral, cujo culto domina as grandes civilizações antigas, com as figuras dos deuses-heróis gigantes, encarnações das forças criadoras e da fonte, vital de luz e de calor que o astro representa (Atum, Osíris, Baal, Mitra, Hélio, Apolo etc.).

Entre os povos de mitologia astral assim como nos desenhos infantis e nos sonhos, o Sol é símbolo de pai. Para a astrologia, igualmente, o Sol sempre foi o símbolo do princípio gerador masculino e do princípio de autoridade, do qual o pai é, para o indivíduo, a primeira encarnação.
Também é símbolo da região do psiquismo instaurado pela influência paterna no papel de instrução, educação, consciência, disciplina, moral. No horóscopo, o Sol representa a opressão social de Durkheim, a censura de Freud, de onde derivam as tendências sociais, a civilização, a ética e tudo aquilo que é importante no ser.

Sua gama de valores estende-se do superego negativo, que esmaga o ser com proibições, princípios, regras ou preconceitos, ao ideal do ego positivo, imagem superior de si mesmo, cuja grandeza procuramos alcançar.

Portanto, o astro do dia situa o ser na sua vida policiada ou sublimada, representa o rosto que a personalidade apresenta nas suas mais elevadas sínteses psíquicas, no nível das suas maiores exigências, das suas mais elevadas aspirações, da sua mais forte individualização, ou no malogro feito de orgulho ou de delírio de poder.
Representa, igualmente, esse ser nas suas funções realizadoras de marido e de pai; no sucesso vivido como engrandecimento do valor pessoal; e, no caso de êxito, numa encarnação de autoridade e de poder que o relaciona com a solarização suprema do guia, do chefe, do herói, do soberano.

Segundo a interpretação de Paul Diel, o Sol iluminador e o Céu iluminado simbolizam o intelecto e o superconsciente; nas palavras do autor, o intelecto corresponde à consciência, e o espírito, ao superconsciente. É assim que o sol e a sua irradiação, antigos símbolos de fecundação, tornam-se símbolos de iluminação.

Essa chave permite renovar, à luz da análise, toda a interpretação dos mitos que mostram heróis e deuses solares em ação. O sol negro é o Sol em sua trajetória noturna, quando deixa este mundo para iluminar o outro mundo.

Os astecas representavam o sol negro carregado nas costas pelo deus dos Infernos. É a antítese do sol do meio-dia, símbolo da vida triunfante, como absoluto maléfico e devorador da morte.

Entre os maias, o sol negro é representado sob a forma de um jaguar. Aos olhos dos alquimistas, o sol negro é a matéria-prima, não trabalhada, ainda não colocada a caminho de uma evolução.
Para o analista, o sol negro será o inconsciente, também no seu estado mais elementar. De acordo com as tradições, o sol negro é uma pré-representação do desencadeamento das forças destrutivas no universo, numa sociedade ou num indivíduo.

É o prenúncio da catástrofe, do sofrimento e da morte, a imagem invertida do Sol no seu zênite.
Minha única estrela morreu, e minha lira constelada Carrega o sol negro da Melancolia. Daí o sentido nefasto dos eclipses.

Após o mundo da Lua, no qual a luz é apenas um reflexo, eis o Sol, fonte dessa luz, décimo nono arcano maior do W17-ó e um dos mais enigmáticos. "Ele exprime a felicidade daquele que sabe estar em harmonia com a natureza" (Enel); "a união sincera, a alegria, a família unida"; "a concórdia, a clareza de julgamento e de expressão, o talento literário e artístico, a felicidade conjugal, a fraternidade, ou o deslumbramento, a vaidade, a pose, o cabotinismo, a fachada simuladora e os adornos prestigiosos".

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Corresponde, na Astrologia, à VII casa do horóscopo. Diante de tantas e diferentes interpretações, perguntamos se o Sol do Tarô não significa coisa demais para poder efetivamente representar qualquer uma delas.

Contudo, tentemos olhar com mais atenção. A carta tem a dominante amarelo-ouro, cor solar, por excelência, que simboliza ao mesmo tempo as perfeições intelectuais, a riqueza do metal e das colheitas, e a grande obra alquímica.

O disco solar é personificado por um rosto de frente, do qual saem 75 raios: 59 são simples traços pretos; oito têm a forma de um triângulo deitado, de lados rígidos (quatro amarelos, dois verdes, dois vermelhos) que se alternam com oito outros de bordas onduladas (três vermelhos, dois brancos, três azuis), sublinhando, deste modo, a "dupla ação calorífica e luminosa da irradiação solar".

Pode-se notar que só os raios vermelhos, cor do espírito todo-poderoso, participam dessa dupla ação. Treze gotas com as pontas viradas para cima, dispostas de modo simétrico (cinco azuis, três brancas, três amarelas e duas vermelhas) caem do Sol em direção à Terra: o Sol propaga profusamente a sua energia fecundadora, enquanto a Lua atrai para si as emanações telúricas; podemos evocar, aqui, a chuva de ouro na qual Zeus se transformou para seduzir Dânae, num sentido simbólico análogo.

No solo sem vegetação encontram-se dois gêmeos cor de carne, de cabeça descoberta, com um colar em volta do pescoço, tocando-se com uma só mão. Lembram os dois personagens presos ao pedestal do Diabo do arcano XV; só que, enquanto estes estão nus com um enfeite de cabeça diabólico, os gêmeos solares vestem uma tanga azul como se, na luz, já tivessem tomado consciência de sua diferença.
Houve quem visse em um deles "o espírito, elemento solar, positivo e masculino", e, no outro, "a alma, elemento lunar, negativo e feminino da entidade humana", ou os dois princípios opostos e complementares do ativo e do passivo.

Seja como for, sendo gêmeos, são investidos de uma força particular "relacionada com o Sol, que distingue os seres e as coisas e as desdobra, dando-lhes uma sombra [...] são a própria imagem da analogia, da fraternidade, da síntese".

São, como Adão e Eva e os heróis-gêmeos, ancestrais míticos de inúmeros povos, a expressão desse tipo de partenogênese da androginia inicial, que marca o início da aventura humana sob o sol.

De pé, de costas para um muro feito de cinco fileiras de pedras, amarelo como o Sol, mas cuja borda superior à altura da cintura dos dois personagens é vermelha. Este muro delimita o seu domínio: "A elite que os filhos do sol representam só pode se confraternizar ao abrigo de um recinto de alvenaria", diz Oswald Wirth, enquanto para Carton, "o muro de pedras representa a pedra filosofal [...] o hieróglifo da verdade, do absoluto e do infinito".

Esse muro, cuja borda vermelha introduz a marca do espírito, chega até a metade da altura dos gêmeos, como se o homem, que já foi jogado de uma torre muito mais alta, tivesse, enfim, percebido, sob a claridade solar, a exata medida de si mesmo e de suas possibilidades.

Depois de todas as ilusões, o Sol nos mostra, finalmente, a verdade de nós mesmos e do mundo. Após ter recebido dele a iluminação, material e espiritual, poderemos enfrentar o julgamento, vigésimo arcano maior. O Sol aguça a consciência dos limites, é a luz do conhecimento e a fonte de energia.

 

O desenho ou a representação do sol como símbolo já foi usado em vários logotipos de empresas de energia solar

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 21/08/2024 por Everton Ferretti