De um modo geral, a vaca, produtora de leite, é o símbolo da Terra nutriz. No Egito antigo, a vaca Ahet é a origem da manifestação, a mãe do sol; o corpo do deus, nos mistérios de Osíris, estava encerrado dentro de uma vaca de madeira e ele renascia através de sua gestação; o amuleto Ahat, que representa a cabeça da vaca sagrada, trazia entre os chifres o disco solar e era utilizado para emitir calor aos corpos mumificados.
Esse costume vinha da crença de que, quando o sol Rá se pôs pela primeira vez no horizonte, a deusa-vaca enviou seres de fogo para socorrê-lo até o amanhecer, para que ele não perdesse o seu calor.
Wallis-Budge, por sua vez, aponta o costume das mulheres das tribos mais primitivas do vale do Nilo de usarem um amuleto representando a deusa Hator, sob forma de uma cabeça de vaca ou de uma mulher de orelhas longas e chatas caindo como as orelhas de uma vaca, para conseguirem uma grande progenitura.
A figura de Hator, no panteão egípcio, resume esses diferentes aspectos do símbolo da vaca. Ela é a fertilidade, a riqueza, a renovação, a Mãe, a mãe celeste do sol, jovem bezerro de boca pura, também esposa do sol, touro de sua própria mãe. É nutriz do soberano do Egito; é a própria essência da renovação e da esperança na sobrevivência, já que é "regente e corpo do céu, a alma viva das árvores".
Está em todos os lugares onde os gregos viram as cidades de Afrodite; é uma jovem, amável e sorridente, deusa da alegria, da dança e da música, e é compreensível que, projetando no além as esperanças realizadas a cada primavera na terra, tenha-se tornado, na margem esquerda do Nilo, em Mênfis e em Tebas, a patrona da montanha dos mortos.
Aparentemente, a Grande Mãe ou Grande Vaca dos mesopotâmios era também uma deusa da fecundidade. A representação do símbolo, que associa a vaca à Lua, ao Chifre e à abundância, é ainda mais exata na Suméria (atual Iraque e Kuwait), onde a lua é decorada com dois chifres de vaca, enquanto a vaca é representada como uma Lua crescente.
A noite estrelada é dominada pelo Touro prestigioso, cuja Vaca fecunda é a Lua Cheia e cuja manada é a Via Láctea; em certos lugares, parece que os sumerianos conceberam a imagem curiosa de um reflexo de lua assimilado a um jato de leite da Vaca lunar:
A brancura da Vaca, um raio de Lua que sobe; O sorriso do céu desatou as correias Das vacas multiplicadas nos estábulos multiplicados; Sobre a mesa ele faz fluir o leite da Vaca fecunda.
Entre os germanos, a vaca nutriz Audumla é a primeira companheira de Ymir, primeiro gigante, nascida, como ele, no gelo derretido: é a ancestral da vida, o símbolo da fecundidade.
Tanto Ymir quanto Audumla são anteriores aos deuses". Esse mesmo simbolismo estende-se à totalidade dos povos indo-europeus.
Permaneceu extremamente forte na índia, o que explica a veneração dedicada a esse animal, que em nenhum outro lugar foi venerado com tanta eloquência quanto nos Vedas, em que, arquétipo da mãe fértil, desempenha um papel cósmico e divino:
A vaca é o céu, a vaca é a terra; a vaca é Vishnu e Prajapati; o leite ordenhado da vaca saciou os Sadhya e os vasni. [...] nela reside a ordem divina.
Ela é a nuvem cheia de chuva fertilizadora que cai sobre a terra quando os espíritos do vento — que são as almas dos mortos — matam o animal celeste e o devoram para, em seguida, ressuscitá-lo em sua pele, retirada anteriormente.
Símbolo da nuvem das águas celestes, a vaca, que se desfaz no céu, se refaz na terra graças ao alimento que a chuva torna abundante. Ela desempenha, portanto, um papel análogo ao do Bode e do Carneiro celestes em inúmeras outras mitologias, que se estendem dos povos escandinavos até os povos das margens dos ribeirinhos do Níger.
A esta função de envoltório — ou de reservatório — das águas celestes frequentemente se acrescenta uma função de psicopompo, atestada na tradição védica que fazia com que uma vaca fosse levada à cabeceira dos moribundos.
Antes de expirar, o agonizante agarrava-se à cauda do animal. Em seguida, o morto era levado para a cremação numa carroça puxada por vacas e seguida por uma vaca preta.
Esta era sacrificada, sua carne, colocada sobre o cadáver, e tudo isso junto era posto sobre uma pira crematória, envolto na pele do animal. Uma vez acesa a fogueira, a assistência cantava pedindo à vaca que subisse com o defunto ao reino dos bem-aventurados que passa pela Via Láctea.
De acordo com certas variantes, a vaca psicopompo — por vezes substituída por uma cabra não malhada — era presa ao pé esquerdo do cadáver. A vaca era sacrificada ao pé da pira funerária, e as partes nobres, ritualmente dispostas sobre o cadáver: os rins eram colocados em sua mão, enquanto entoavam as estâncias.
É preciso enfatizar aqui o quanto a pele do animal delimita este ou aquele aspecto do simbolismo. Pois essa vaca preta, sem dúvida um avatar da vaca oculta do Veda, que corresponde à aurora primordial, também é encontrada no 12:to-Té King (cap. 6) para designar afêmea misteriosa, o princípio feminino, origem do céu e da terra; ainda no Veda, a vaca leiteira malhada é o símbolo do andrógino inicial; enquanto a vaca branca — a mais totalizante encarnação do símbolo — é, como a preta, relacionada ao fogo sacrificial, o agnihotra.
Mas o agnihotra é também o sacrifício da palavra, e as vacas são as fórmulas sagradas dos Vedas.
Será a lembrança deste simbolismo upanixádico? Em vários textos do budismo zen, a vaca é estreitamente relacionada ao processo gradativo que conduz à Iluminação.
Aqui, entretanto, o asceta não é um vaqueiro, um gopala krishnaíta, e a própria vaca não é luz, como o é às vezes no hinduísmo. Ela representa a natureza do homem e a sua capacidade de iluminação, que as Dez tábuas da domesticação da vaca fazem progressivamente passar de preto ao branco. Quando a própria vaca branca desaparece, o homem escapou das limitações da existência individual.
Ao contrário do que poderíamos pensar, este velho símbolo não desapareceu completamente da nossa memória, como o prova a obra do pintor ecologista Uriburu, que recentemente expôs alguns quadros representando uma vaca verde, para celebrar as virtudes da natureza, ameaçada pelo desenvolvimento da civilização industrial.
Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.
A vaca na Índia
Na Índia, a vaca é um símbolo profundamente enraizado na cultura, religião e sociedade, especialmente no hinduísmo, a religião predominante no país. Na Índia, a vaca é mais do que um animal doméstico; ela é um símbolo sagrado que representa vida, sustento, compaixão e espiritualidade, desempenhando um papel central na vida religiosa e cultural do país.
Vaca como símbolo de fertilidade e abundância
A vaca é vista como um símbolo de fertilidade, prosperidade e abundância. Ela é associada à Mãe Terra (Prithvi) devido à sua capacidade de fornecer sustento através do leite, um alimento básico e sagrado. No hinduísmo, a vaca é frequentemente referida como Gau Mata (Mãe Vaca). Ela é respeitada e reverenciada como uma mãe que nutre seus filhos, fornecendo leite, manteiga e outros produtos essenciais.
Muitas escrituras hindus, como os Vedas, mencionam a vaca como um ser divino que deve ser protegido e respeitado. Este respeito se reflete em práticas culturais e religiosas, onde o consumo de carne bovina é tabu para muitos hindus. A vaca é associada a várias divindades hindus. Por exemplo, Kamadhenu, a vaca celestial, é uma figura mitológica que supostamente concede todos os desejos e é considerada a mãe de todas as vacas. Além disso, Krishna, uma das deidades mais adoradas no hinduísmo, é frequentemente representado como um vaqueiro (Gopala) e é descrito como um amante das vacas.
A vaca é um símbolo de não-violência (ahimsa) e compaixão. O respeito pela vida da vaca reflete a reverência mais ampla pela vida em todas as suas formas, um princípio central no hinduísmo e outras religiões indianas como o jainismo e o budismo. Em muitas partes da Índia, a proteção das vacas é incorporada nas leis estaduais e federais, onde o abate de vacas é estritamente proibido ou altamente regulamentado. Este respeito pela vaca também se manifesta em práticas sociais, onde muitos indianos evitam o consumo de carne bovina.
A veneração da vaca transcende a religião e é parte integrante da identidade cultural indiana. Mesmo em comunidades não hindus, há um reconhecimento do simbolismo da vaca na sociedade indiana.
A Índia quer ser conhecida por seus outros 2 nomes
Recentemente a Índia tem divulgado seu interesse em ser conhecida pelos seus nomes ligados à sua cultura histórica, daí o nome Bharat (ou Bharatvarsha). Este nome tem raízes profundas na tradição e mitologia hindu, sendo mencionado em textos antigos como os Vedas, Mahabharata e Ramayana. Bharat é derivado de um antigo rei lendário, Bharata, que, segundo a tradição, unificou a região que hoje é a Índia.
O nome Hindustan também é usado, especialmente no contexto histórico e cultural, referindo-se à terra dos hindus. Esse termo foi popularizado durante os períodos dos impérios islâmicos, especialmente o Império Mogol. Dessa forma, os dois principais nomes alternativos da Índia são Bharat e Hindustan.
A vaca na capa do disco do Pink Floyd
A capa do álbum Atom Heart Mother do Pink Floyd é uma curiosidade interessante na história do rock e no design de capas de discos. Lançado em 1970, este álbum marca um momento de transição para a banda, que estava começando a explorar novos estilos musicais. Atom Heart Mother é um álbum instrumental, experimental e conceitual. A faixa-título, que ocupa todo o lado A do LP, é uma peça sinfônica com arranjos orquestrais, uma locomotiva apitando e um grupo cantando em coro, algo bastante ousado para a época. Esse novo caminho criativo pedia uma abordagem igualmente ousada para a capa do disco.
A ideia para a vaca na capa surgiu de uma colaboração entre o Pink Floyd e o estúdio de design Hipgnosis, cofundado por Storm Thorgerson e Aubrey Powell. Thorgerson, em particular, tinha uma longa história de criar capas para a banda, e ele é responsável por algumas das mais icônicas na história da música.
Quando chegou a hora de decidir a arte de "Atom Heart Mother", a banda e Thorgerson queriam algo que fosse o oposto das capas psicodélicas comuns na época. Eles estavam cansados dos padrões de design que associavam suas músicas a imagens previsíveis de luzes coloridas, formas abstratas e referências ao espaço.
Thorgerson teve a ideia de fotografar algo simples, comum, mas que fosse ao mesmo tempo impactante pela sua normalidade. Ele dirigiu-se ao campo com uma câmera, sem nenhuma preparação elaborada, apenas para encontrar uma vaca. Ao chegar, ele avistou a vaca que viria a se tornar famosa, seu nome depois ele descobriu do fazendeiro: Lulubelle III.
A foto foi tirada em um campo em Hertfordshire, na Inglaterra. Lulubelle III estava pastando quando Thorgerson capturou a imagem. Ele não estava preocupado em fazer algo artístico ou sofisticado, o que tornou o resultado ainda mais marcante. A vaca olha diretamente para a câmera, transmitindo uma sensação de serenidade e naturalidade.
A reação dos membros da Banda
Quando Thorgerson apresentou a foto ao membros da banda, eles aprovaram imediatamente. A ausência de qualquer texto, título ou menção ao Pink Floyd na capa era uma escolha deliberada, reforçando a ideia de que a música deveria falar por si mesma, sem a necessidade de rótulos ou descrições. Quando o álbum foi lançado, a capa causou um grande impacto. Muitos não sabiam o que pensar: por que uma banda de rock progressivo como o Pink Floyd escolheria uma imagem tão simples e despretensiosa? Mas essa simplicidade acabou se tornando a força da capa. Ela se destacava nas prateleiras de discos, desafiando as normas visuais da época.
A imagem de Lulubelle III se tornou uma das mais reconhecidas na história da música e é frequentemente citada como uma das capas de álbuns mais icônicas de todos os tempos. Ela simboliza a abordagem não convencional do Pink Floyd, tanto na música quanto na arte visual, e continua a ser uma referência para o design gráfico na cultura pop.
Segundo o ChatGPT, a "vaca da capa" do álbum Atom Heart Mother não é apenas uma imagem de um animal no campo, mas um símbolo da ousadia e criatividade do Pink Floyd e de Storm Thorgerson, que ousaram desafiar as expectativas e criar algo verdadeiramente único.