Que diferença faz a garrafa, uma vez que se tenha a embriaguez! Ainda uma vez, a sabedoria dos povos acentua, sem hesitação, aquilo que dá ao símbolo sua especificidade.
O valor do frasco é metonímico, procede de seu conteúdo, tão volátil quanto precioso, e que esse frasco ou garrafa é o único capaz de conter porque, ao contrário de todos os demais vasos, a garrafa é tampada, hermética.
A garrafa, portanto, está associada (como símbolo) ao segredo, ou ao seu parceiro, o sagrado. Contém um elixir, um filtro: elixir da longa vida, ou mais prosaicamente, aguardente — pois ambos proporcionam, como o conhecimento esotérico, uma espécie de embriaguez.
Neste caso, são duas categorias do mesmo símbolo que, tal como o testemunham tantas histórias e lendas, transforma também a garrafa na prisão de um espírito (gênio), diabólico ou divino, segundo o ângulo que se considere.
O malicioso e perspicaz diabo coxo de Lesage não sai também de dentro de uma garrafa, exatamente como todas as reflexões dos bêbados.
O simbolismo da garrafa pode variar, de acordo com as inumeráveis formas e conteúdos dela. Fundamentalmente, porém, a garrafa vem da arca e traz o ramo, simboliza um saber e um saber salvífico, portador de paz. Ela é o navio e a arca dos conhecimentos secretos e das revelações que hão de vir.
Vigny (Alfred de, 1797-1863) fez da garrafa o símbolo da ciência humana, exposta a todas as tempestades, mas rica de um elixir divino, infinitamente mais apreciável do que todo o ouro, os diamantes e as pérolas do mundo.
O navegador que lança sua garrafa ao mar, no momento em que seu navio soçobra:
... sorri ao sonhar que esse vidro frágil levará seu pensamento e seu nome a algum porto... Que Deus pode permitir às águas enlouquecidas destruir os navios, mas não os pensamentos; e que, com uma garrafa, ele venceu a morte.
O pescador, que avista a garrafa após sua longa peregrinação sobre as ondas, indaga-se:
Que elixir será esse, negro e misterioso? ... Pescador, é a ciência, é o elixir divino que bebem os espíritos, tesouro do pensamento e da experiência.
Simbolismo da embriaguês
A embriaguez, ligada à fecundidade, às searas, à riqueza das colheitas, tem muito a ver com os fenômenos lunares.
A Lua governa, com efeito, na simbologia tradicional, o ciclo da vegetação, da gravidez, do crescimento. Por isso mesmo, os deuses da fecundidade são, na maioria das vezes, divindades lunares.
A ebriedade espiritual é um símbolo universal: pertence não só à linguagem dos místicos cristãos e muçulmanos, para os quais engendra a perda do conhecimento de tudo o que é alheio à Verdade, ou seja, o esquecimento até do nosso esquecimento, mas também à linguagem dos próprios esoteristas.
A embriaguez do espírito não é apenas um transporte das faculdades mentais, uma vez que o vinho é, ele mesmo, sinônimo de conhecimento.
Não é também um símbolo verbal, analógico, pois que, um pouco por toda parte, o homem recorre à embriaguez física como meio de acesso à espiritual, libertando-se do condicionamento do mundo exterior, da vida controlada pela consciência: era assim nos mistérios gregos e no taoismo, cujos sábios beberrões são famosos. "Quando a gente se embebeda", diz Liu-ling, "não tem mais sensação de frio nem de calor, as paixões se dissipam, os seres que formigam em torno não são mais que lentilhas-d'água, boiando à superfície do Kiang e do Han [...]."
Desde as origens, Yu-o-Grande, que praticava a dança extática, era, ao que se diz, dado à bebida.
Um texto tântrico assegura que quando a gente bebe, quando bebe de novo, quando bebe mais, até cair por terra, e se ergue, e recomeça a beber, a gente escapa para sempre ao ciclo da reencarnação. O que poderia ser um símbolo aceitável da embriaguez espiritual.
Trata-se, na verdade, de coisa muito diferente: embriaguez, aqui, é o símbolo dos exercícios de retenção da respiração (prender o fôlego), ligados à ascensão da kundallini. A queda por terra é a descida da energia até o centro-raiz (muladhara-chakra), que corresponde à Terra. A repetição da experiência conduz, finalmente, à libertação .
A embriaguez é generalizada na grande festa irlandesa de Samain, onde cerveja e hidromel correm como rios. A maior parte dos textos fala da confusão da embriaguez, sem nenhuma intenção, sem qualquer conotação pejorativa.
O que é fácil de compreender com relação a uma festa que está, simbolicamente, fora do tempo humano e na qual os homens se acreditam em contato direto com o Outro-Mundo, dos deuses. Esse contato direto não seria possível sem uma embriaguez sagrada, a qual, por algumas horas, faz sair a humanidade do seu estado normal.
Simbolismo da bebedeira
A bebedeira — que Rabelais doutamente demonstra ter precedido a sede — evoca certas obras em que a embriaguez nada mais é, em suma, do que um pretexto para exercícios de linguagem (álcool) ou para abandonar-se ao sono do esquecimento.
A bebedeira é um rito muito apreciado na China antiga, onde, assim como o banquete, tem valor comunitário e valor de aliança.
O período de renovação do ano e a vacância do calendário entre dois anos sucessivos eram ocasiões dedicadas a bebedeiras noturnas (sete ou doze noites). Seu objetivo era a restauração das energias vitais, antes do ciclo anual e antes do início do despertar da natureza, que se pretendia propiciar.
Esse ritual, bem como o tipo de preocupação que o determina, não são, aliás, peculiares só à China. Entre os montanheses do antigo Vietnã do Sul, sonhar com uma bebedeira é anúncio de chuva. Entre eles, o rito comunial da jarra é característico e apresenta-se como propiciatório da fertilidade.
As bebedeiras são rituais e obrigatórias nas festividades celtas, muito particularmente durante a do Samain que concerne a toda a sociedade. Bebia-se, após o repasto, hidromel e cerveja, havendo muitos textos que falam dessas bebedeiras e da embriaguez por elas provocada, sem qualquer tom de censura.
Essa mesma observação é válida com respeito ao País de Gales. Na Gália, onde de bom grado bebia-se vinho puro, à moda antiga, ou seja, um vinho de alto teor alcoólico, os ágapes deviam muitas vezes acabar mal.
Os irlandeses tomavam a precaução de desarmar os convivas de antemão, o que não bastava, entretanto, para impedir totalmente as provocações e as rixas. Não se tem notícia de que a embriaguez sagrada tenha sido frequente. Em todo caso, ela existiu — não como meio de divinação, mas como meio de contato com o Outro-Mundo, um modo de colocar-se em disponibilidade passiva sob o influxo da divindade.
Garrafa e direção não combinam
O ministério da Saúde orienta a população e os motoristas que se for dirigir não consuma bebida alcoólica. E finaliza: Álcool e direção não combinam! - Além da multa, o motorista está sujeito a suspensão do direito de dirigir por 12 meses.
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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.